O dia 31 de janeiro de 1983, há exatos trinta anos, foi uma data marcante na história de Campina Grande. Vencedor das eleições do ano anterior, Ronaldo Cunha Lima tomava posse como prefeito da cidade. Mas, a relevância do acontecimento não residia no fato de mais um prefeito estar sendo empossado. O Brasil vivia os estertores da Ditadura Militar e, embora somente em 1989 o povo retomasse o direito de escolher o presidente da República, já havia avanços, como a possibilidade de eleição direta para governador nos estados.
Entretanto, as feridas do regime, algumas até hoje abertas, ainda eram recentes. Por isso mesmo, aquela data tornava-se tão significativa, não apenas na carreira de Ronaldo, como na história da cidade, afinal, no mesmo 31 de janeiro, quatorze anos antes, ele havia sido empossado pela primeira vez como prefeito, acabando, porém, um mês e meio depois, cassado pela ditadura.
Ao ser arbitrariamente afastado do comando do executivo municipal, em 14 de março de 1969, Ronaldo, então às vésperas de completar 33 anos, resolveu deixar Campina Grande. Exilou-se no Sudeste onde, após uma fase de dificuldades, começou a prosperar exercendo o direito. As versões sobre seu retorno a Campina e às disputas eleitorais são divergentes.
Uma delas diz que Ronaldo, tendo se estabelecido como advogado no Rio de Janeiro, não pretendia voltar, acabando por ceder, porém, à pressão de familiares e amigos. Todavia, o senador Cássio Cunha Lima conta que Ronaldo, embora tendo passado a gozar de uma boa posição no Sudeste, jamais perdeu o vínculo cotidiano com a Paraíba. Conforme Cássio, o pai recebia e lia avidamente os exemplares do único jornal de Campina à época, o hoje extinto Diário da Borborema.
O certo é que o poeta voltou à Rainha da Borborema em março de 1982, precisamente no dia 18, data do seu aniversário, tendo sido recebido com uma festa enorme, que marcou o pontapé inicial da campanha. Nas urnas, Ronaldo atropelou todos os demais candidatos. O sistema vigente então ainda era o da sublegenda, em que os partidos lançavam até três concorrentes, elegendo-se o candidato mais votado do partido que somasse mais votos.
Ao contrário de 1968, quando precisou dessa matemática para vencer, em 1982 Ronaldo, sozinho, obteve mais votos que todos os outros seis prefeitáveis. Candidato pelo PMDB I, ele somou 40.679 sufrágios, o equivalente a 56,33%. Vital do Rêgo, do PDS I, segundo colocado, obteve 28.625 votos, ou 39,64%. Em 31 de janeiro de 1983, sucedendo Enivaldo Ribeiro, estava de volta ao poder, mais uma vez nos braços do povo.
No retorno à cidade, onde trinta anos depois seria sepultado, Ronaldo Cunha Lima poetizou: “Volto à minha Campina / No templo e no Evangelho! / E ao entrar nesta cidade / Afoguei minhas saudades / Nas águas do Açude Velho”.
Enivaldo: Naquele tempo, era mais difícil ser prefeito
O ex-prefeito Enivaldo Ribeiro, antecessor de Ronaldo Cunha Lima, ficou emocionado ao ser lembrado, pela reportagem de A União, a respeito da data, também marcante em sua carreira política. “Já se passaram trinta anos. Naquele tempo, era mais difícil ser prefeito que hoje. A gente não tinha todos esses apoios do Governo Federal, não existiam esses programas que hoje existem. Não havia emendas parlamentares. A gente fazia as coisas na raça”, comentou.
“Tenho a sensação do dever cumprido. Fiz muitas obras que se revelariam fundamentais para o desenvolvimento da cidade, como a abertura de ruas e avenidas, a construção do terminal rodoviário, uma infinidade de ações”, avalia o ex-prefeito.
Após deixar o cargo, Enivaldo tentou por quatro vezes voltar à prefeitura, mas foi derrotado em todas, três delas por Cássio Cunha Lima e uma por Félix Araújo Filho. Ele garante, contudo, não ter ficado ressentido pelos revezes. “Entendo que Deus queria que eu fosse prefeito quando eu fui. Aquele era o tempo determinado por Deus. Não tenho como sentir mágoa da minha cidade. Sinto é orgulho da minha história”, concluiu Enivaldo, que vai completar 78 anos em março.
Matéria nossa publicada no jornal A União de hoje
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