O SALÃO MISTERIOSO


Nenhum vereador de Campina Grande se manifesta contra o hábito, cada vez mais arraigado e freqüente na Câmara, do uso do misterioso salão azul para ensaios dos debates e votações que devem acontecer em plenário. Mas, já é hora dessa prática ser questionada, afinal, o uso desenfreado das reuniões a portas fechadas tem transformado as sessões em eventos teatrais, puro jogo de cena, ficando aberto ao público quase que apenas as votações em piloto automático de requerimentos de pouca significância.

Nos temas mais controversos, nas maiores polêmicas, os vereadores trancam-se às sete chaves em embates secretos, dos quais algum trecho só chega ao ouvindo dos cidadãos quando um ou outro insatisfeito dá alguma pista. Por que o parlamento campinense foge do debate público, distorcendo o regimento e negando à opinião pública da cidade, que já não faz bom juízo da atual legislatura, o direito legítimo a acompanhar o confronto das opiniões, tornando-se partícipe destas discussões? O que há para ser escondido?

Esta semana, não fosse a confusão durante a tentativa de se definir as comissões permanentes, que levou alguns vereadores a abrir, parcialmente, a caixa da pandora do salão azul, todo o processo teria ficado na surdina, com uma insossa e coreografada votação em plenário. É fato que alguns parlamentares, mui hábeis nas negociações de sala fechada, em público são incapazes de juntar um sujeito e um predicado numa frase minimamente lógica e inteligível.

É fato que coisas impublicáveis são ditas no recôndito salão, algumas das quais fariam tremer o túmulo de Félix Araújo. Todavia, a transparência deve ser marca inata ao legislativo, como evidência de um poder eleito pelo povo para agir em nome do povo. Na contramão, debates e acertos misteriosos fomentam especulações e dão à Câmara um aspecto obscuro. Que a sociedade cobre o fim dos debates secretos e que aqueles vereadores que prezam por seus nomes e pela boa imagem do parlamento campinense possam confrontar esse hábito descabido.

1 Comentários

Anônimo disse…
Muito bem observado, Lenildo. Essa falta de transparência do legislativo-mirim depõe contra a democracia, que tem como um de seus fundamentos a participação indireta do povo na feitura de leis através do voto em seus representantes, que cometem crimes ao sonegar de seus representados a manifestação de suas ideias, tornadas escusas sempre que manifestas a portas fechadas, entre apenas seus pares.