Aduepb emite nota de repúdio contra críticas de Rangel Júnior na Campina FM


A Associação dos Docentes da UEPB (Aduepb) emitiu uma nota de repúdio contra as declarações do reitor da universidade, Antônio Guedes Rangel Júnior, durante entrevista à Campina FM na última quarta-feira. Em sua fala, Rangel criticou duramente a oposição da entidade ao projeto de aulas remotas durante a pandemia.

O reitor acusou a associação de boicotar uma pesquisa realizada junto a professores e alunos e afirmou que a postura “parece querer favorecer uma certa acomodação, uma certa manutenção, preservação da zona de conforto” e disse que “teria muita vergonha de defender uma tese de que eu deveria receber meu salário integralmente para ficar em casa de pernas cruzadas”.

Nesta sexta-feira, a presidente da Aduepb, Mauriene Freitas (foto), também concedeu entrevista à Campina FM e condenou o discurso de Rangel. Para ela, as considerações do reitor ofendem a categoria.

“E ele é professor”, frisou Mauriene, que ainda acusou a gestão da estadual de ter demorado a iniciar a discussão sobre medidas a serem adotadas na pandemia e de não ter anteriormente apresentado alternativas para atender alunos sem acesso de qualidade à internet.

Abaixo, veja a nota da Aduepb na íntegra.

A atual diretoria da Associação dos Docentes da UEPB vem desde novembro de 2019 buscando aprofundar um processo de sintonia com a categoria e com o trabalho de base, acreditando que seu papel de se colocar presente em todos os espaços possíveis de debate na esfera da UEPB tem sido de muita importância para a construção de uma universidade mais igualitária e democrática, sempre dialogando com o senso crítico dos docentes no trato das mais importantes questões da educação e do ensino superior.

Tomando por base essa linha política, a diretoria da ADUEPB foi surpreendida com declarações do reitor Rangel Júnior à Rádio Campina FM na quarta-feira, que buscaram construir uma narrativa para tentar desqualificar as posições que a entidade defende publicamente, desde o início da pandemia, de oposição a adoção do ensino remoto na UEPB.

Na contramão da sociedade, que nos últimos meses vem reconhecendo o trabalho dos professores, estudantes e técnico-administrativos na busca de caminhos para o enfrentamento da Covid-19 e de apoio aos milhares de profissionais de saúde, o gestor acusa o sindicato de assumir uma posição de defesa da “acomodação e da manutenção da zona de conforto” dos professores diante do desafio da atual crise sanitária e social, num discurso semelhante ao de gestores e segmentos sociais que acusam costumeiramente os trabalhadores do serviço público de vagabundagem e ineficiência.

As palavras proferidas, quando advindas de um reitor de uma universidade pública, ganham um peso maior de gravidade, já que ao ocupar tal posição pressupõe-se a clareza de que atividades docentes tem ocorrido em muitos âmbitos da instituição. Perde-se uma oportunidade no espaço midiático de ajudar a sociedade a entender e valorizar as várias funções sociais do professor, pesquisador, servidor público e agente de transformação.

A Reitoria tem legitimidade para discordar da posição do Sindicato dos Professores. Isso faz parte da convivência democrática numa universidade pública, mas a tentativa de construção da narrativa da Reitoria não atinge o conteúdo da análise produzida pela ADUEPB em relação a minuta de resolução de ensino remoto. Infelizmente, busca desqualificar a entidade, numa tentativa de retirar do foco questões fundamentais levantadas pelo documento.

Em nada as declarações do reitor deram resposta aos milhares de estudantes social e economicamente menos favorecidos que deverão ser excluídos com a adoção de aulas remotas na universidade. Também, infelizmente, não solucionaram as dúvidas da comunidade universitária de como a universidade superará de forma praticamente imediata a falta de estrutura para que os professores tenham realmente condições de aderirem, se quiserem, às aulas online.

O gestor também está devendo respostas a profunda desresponsabilização que a proposta de aulas remotas buscar adotar na universidade e tenta impor aos professores com a transferência da responsabilidade por equipamentos, serviços de internet, local para o trabalho, aumento da precarização do seu trabalho e da carga de responsabilidade burocrática que eles terão de assumir.

Surpreende que a tentativa de construção da narrativa do reitor aponte a ADUEPB como fonte de um “boicote” contra a proposta que ele e sua equipe apresentaram a comunidade universitária para a ação da instituição nos próximos meses de pandemia. Melhor seria considerar as inúmeras dúvidas e questionamentos sobre a proposta que fomentaram um sentimento de insegurança na categoria e impulsionaram a não adesão.

A narrativa de “boicote” do sindicato, alerta a ADUEPB, também poderá servir para justificar os danos sociais que deverão atingir milhares de estudantes e professores se o ensino remoto for implantado.

A ADUEPB ratifica sua posição contrária a implantação do ensino remoto na UEPB e ressalta que, mesmo compreendendo a importância de diálogo com os alunos e com a sociedade, a universidade deve perceber o impacto a curto, a médio e a longo prazo da implantação dessa nova a modalidade de trabalho em seu interior.

A diretoria da ADUEPB ressalta que continuará cumprindo seu papel em defesa dos direitos dos professores, defesa da Universidade Estadual da Paraíba e de defesa da educação pública, gratuita e de qualidade socialmente referenciada, independente de governos, partidos políticos e gestão de universidade, conforme compromisso assumido por essa diretoria em campanha eleitoral.

Campina Grande, 19/06/2020

A Diretoria

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