Desafio: “Um país que era de tanta cultura / Vive hoje só de esculhambação”, por Lenildo Ferreira e Márcio Santana

(Lenildo)
Um conceito de arte pervertido
Que perverte, envergonha e afronta
Baixaria para se perder a conta
A “canção” faz doer o meu ouvido
O cantar está mais para um grunhido
E a letra é pura depravação
Sertanejo, rapp, funk e pagodão
Ouvir isso é mesmo uma tortura
Um país que era de tanta cultura
Vive hoje só de esculhambação

(Márcio)
País de Gracilianos e Morais
De Drummonds e de Tobias Barretos
De cronistas, romances e sonetos
Acabou-se, enterrou-se, não tem mais
Observe, procure nos jornais
Não sobrou quase nada na nação
Só Emicida e Wesley Safadão
Toca num som de carro a toda altura
Um país que era de tanta cultura
Vive hoje só de esculhambação

(M)
Tantos analfabetos funcionais
Estão hoje ocupando palacetes
Enchendo do Senado os gabinetes
Posando de bonzão, se achando os tais,
Muitas autoridades federais
Não sabem escrever uma redação
Quando abrem a boca na sessão
O idioma mandam pra sepultura
Um país que era de tanta cultura
Vive hoje só de esculhambação

(L)
O próprio Lula, semi-alfabetizado
Instituiu um culto à ignorância
Aplaudido pela sua militância
Permanece ainda sendo endeusado
Um conceito de cultura enviesado
Prevalece no seio da nação
Que celebra a falta de educação
Só faltando uma bolsa-ferradura!
Um país que era de tanta cultura
Vive hoje só de esculhambação

(L)
O cinema só tem imoralidade
O roteiro preza pela baixaria
Até mesmo em relação à poesia
Pouca coisa tem alguma qualidade
Ex-BBB vira personalidade
O “artista” da Fazenda é atração
Às mulheres o trato que lhes dão
É sobrenome de fruta e de verdura
Um país que era de tanta cultura
Vive hoje só de esculhambação

(M)
As crianças começam a estudar
Acham que vão à escola pra aprender
Depois saem de lá sem nem saber
Somar, diminuir, multiplicar
Vão pulando de ano sem parar
Até que chegam na graduação
Lá diploma, por certo, ganharão
Mas só leem livro se tiver figura!
Um país que era de tanta cultura
Vive hoje só de esculhambação

(M)
Machado Assis falou, eu tinha lido
Chico Dantas também desceu o malho
Em figuras iguais Jileu Bicalho
Tipos fáceis de serem percebidos
Por saber Javanês são conhecidos,
São, de Lima Barreto, O Escrivão
Nada sabem, são pura pretensão
E têm pós-doutorado em impostura
Um país que era de tanta cultura
Vive hoje só de esculhambação

(M)
O que aconteceu com esse Brasil,
Me desculpe a franqueza em perguntar,
Se há tanta beleza em tal lugar,
E do lado de cima um céu de anil,
Por que embaixo só toca Preta Gil?
Ou Calypso, ou Bonde do Tigrão?
Funk de safadeza e pegação
Descendo pra garrafa com a cintura
Um país que era de tanta cultura
Vive hoje só de esculhambação

(L)
Safadeza até mudou de nome
Sendo hoje chamada “irreverência”
Nossa arte em plena decadência
Ignorância aplaudida nos consome
O que presta, da mídia logo some
Falta espaço em toda programação
O rádio, outra grande negação,
Só toca porcaria da mais pura
Um país que era de tanta cultura
Vive hoje só de esculhambação

(M)
Com a televisão não me comovo
A pegar no controle eu não me atrevo
Vão dizer que sou um homem medievo
É que não "Vale a pena ver de novo"
Serve só pra afrouxar a moral do povo
O que passa hoje na televisão
É Esquenta, é Fazenda, é Caldeirão
Sem noção, sem moral, e sem censura!
Um país que era de tanta cultura
Vive hoje só de esculhambação

(L)
O galã interpreta muito mal
A mocinha, coitada, uma tristeza
No domínio do culto à beleza
O talento não é mais essencial
O livro festejado no jornal:
“O Veneno do Escorpião”
Onde a quenga faz a revelação
De façanhas, com a maior candura
Um país que era de tanta cultura
Vive hoje só de esculhambação

(L)
O forró não é como no passado
Falta letra, falta alguma poesia
Vocalista berrando, que agonia!
Feito gato gemendo no telhado!
Sobra só carqueado e rebolado
E a dança “vai descendo até o chão”
Quanta falta nos faz o Gonzagão
Cuja arte vive além da sepultura
Um país que era de tanta cultura
Vive hoje só de esculhambação

(M)
Não tem mais Vitalino e Villa-Lobos
Nosso grande escritor? Paulo Coelho!
Só sobrou o Olavo pra dar conselho
Mostrar que fizemos papel de bobos
Com manchete de morte e muitos roubos
Com dólar na cueca e mensalão,
Tem pra Copa, não tem pra Educação
Eita que esse Brasil ninguém segura!
Um país que era de tanta cultura
Vive hoje só de esculhambação

(L)
Onde estão nossos grandes escritores?
Só nos restam Paulo Coelho e Surfistinha?
E na música, além do da “Tarraxinha”,
Onde estão os nossos compositores?
Os menestréis que entoavam seus amores?
Acabou-se a boa inspiração?
As musas dos poetas, onde estão?
E os romances da nossa literatura?
Um país que era de tanta cultura
Vive hoje só de esculhambação

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