Os coronéis falam fino

O Senado Federal tem 81 membros. O equivalente a exatamente um terço desse total, 27 senadores, é de nordestinos. A Câmara dos Deputados, por sua vez, tem 513 parlamentares, sendo 151 (quase 30%) deles da nossa região. Ou seja, o Nordeste, sozinho, conta com praticamente um terço da bancada do Congresso Federal.

Mesmo assim, e apesar de políticos da região ocuparem cargos proeminentes nas duas casas legislativas (inclusive as presidências do Senado e da Câmara), o fato é que, no cotidiano do parlamento nacional, o Nordeste tem muito pouca relevância.

Três fatores contribuem para esse contrassenso. Primeiro, a incapacidade dos políticos da região de deixarem as diferenças e interesses pessoais em plano secundário, em prol de uma causa maior; Segundo, a submissão interesseira e covarde da ala governista; Terceiro, a inexpressividade da oposição.

Recentemente, o vereador campinense Olímpio Oliveira, reavendo discurso de Alcides Carneiro na Câmara Federal, clamou aos nossos representantes no Congresso que façam o que está em seu poder fazer: tranquem a pauta.

Nada se vote neste país até que o Governo Federal pare de enxergar o Nordeste apenas como um curral eleitoral, uma terra de migalhas; até que a presidente, que mostrou-se ágil em socorrer brasileiros do Sudeste e do Sul quando preciso, entenda que os brasileiros do Nordeste também são brasileiros.

É preciso radicalizar porque a situação o pede! Não é mais tempo para bravatas, meros discursos, nem tampouco promessas futuras!

A calamidade assola o Nordeste, dizima rebanhos, lança trabalhadores à miséria, leva desesperados a gestos tresloucados, espalha extrema pobreza pela região, aviva a infeliz indústria da seca, cobre de sofrimento e opróbrio a região e de culpa todo o país. Não há o que se discutir!

A paisagem de morte pintada na caatinga seca fala por si, como uma evidência mórbida da miséria humana, do atraso de uma nação, da indiferença criminosa dos governos. O gemido dos que padecem – gente e bicho – é a mais eloqüente imprecação contra o poder que pode mas não se importa.

E nossa elite política, onde está? Os presidentes da Câmara e do Senado, embora cabeças chatas, são homens riquíssimos, que nadam na opulência escarnecedora do poder. Onde estão os coronéis do Nordeste, os políticos que cá mandam com mão de ferro, cuja voz faz estremecer céus e terras neste chão esturricado de meu Deus?

Estes coronéis, em Brasília, falam fino! Só são fortes com os fracos. Só falam alto com quem não tem voz. Só são reis em seus redutos assolados pelo atraso, em que castas se proliferam feito ratos no esgoto a espalhar a dominação que prende a nossa política aos primórdios atrasados do século passado.

Lá, nos ares de Brasília, um ou outro representante do Nordeste que figura na oposição brada sem eco, feito a andorinha solitária que jamais fará verão. Outros – a maioria nessa minoria – alteiam a fala lá só para serem ouvidos aqui.

Do outro lado, na maioria governista, deputados e senadores nordestinos calam-se, submissos, subalternos, covardes, sob a voz grossa da presidência. Temem a censura, o puxão de orelhas, a perda das benesses, e se dão por satisfeitos com uma promessa, uma emenda, um trator, uma bolsa-miséria para os outros – e, claro, o poder para si.

Calam-se, quando jamais podiam calar-se, por instante sequer, enquanto a indiferença é resposta para tamanha tragédia. Calam-se, complacentes e cúmplices, porque estão de talo cheio – como diria o homem do povo. A barriga vazia é que faz gemer, enquanto o bucho empanzinado dá sono.

Pois bem. Disse uma ministra que a gente nordestina tem fé. Tem! E é à fé que se apegam. Fé que o poder do alto os socorra. Fé que, se nada mudar, pelo menos haja um céu a receber os pobres após o último suspiro de vida dolorida. E que, se há céu, há de existir inferno, para receber os poderosos após o adeus a uma vida de prazer, covardia e criminosa indiferença.

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