Ciro Gomes e a lição de como mudar de discurso

O ex-ministro Ciro Gomes (PSB) é uma liderança política de perfil bem peculiar, devidamente amoldada, no entanto, ao paradigma do coronel político nordestino. É inteligente, eloqüente, hábil na argumentação, e, embora longe de se enquadrar no modelo de galã, já viveu romances até com celebridades. Ficou famoso nacionalmente, também, por seu destempero.

Planejava ser candidato a presidente da República em 2010, mas foi impedido por seu partido, que preferiu manter-se à sombra do PT, apoiando a indicada de Lula, Dilma Rousseff. Para alguém com seu temperamento, Ciro até que agüentou com moderação, porém, mesmo assim, em seu portal, publicou uma carta com título sugestivo: “Ao rei tudo, menos a honra”.

A quem o ex-ministro teria se referido como “o rei”?

No primeiro parágrafo da carta, ele lamenta a decisão do partido. “A cúpula de meu partido, o PSB, decidiu-se por não me dar a oportunidade de concorrer à Presidência da República. Esta sempre foi uma das possibilidades de desdobramento da minha luta. Aliás, esta sempre foi a maior das possibilidades”.

E aponta aquilo que enxergava como um equívoco. “Acho um erro tático em relação ao melhor interesse do partido e uma deserção de nossos deveres para com o País”.

O governo Lula II enfrentava uma profunda crise, com sucessivos de escândalos, e Ciro Gomes tocou, de leve, na questão. Só o suficiente para passar um recado.

“Acato a decisão da direção do partido. Meu entusiasmo, e o nível de meu modesto engajamento, entretanto, irão depender do encaminhamento, pelo partido, de minhas preocupações com o Brasil, com nossa falta de um projeto estratégico de futuro, com a deterioração ética generalizada de nossa prática política, com a potencial e precoce esclerose de nossa democracia”.

Pois bem. Agora, diante da possibilidade de um correligionário, o governador Eduardo Campos, sair candidato à presidência, Ciro apressou-se em adotar um discurso bem diferente, atacando o pernambucano, ao dizer pura e simplesmente que Campos não conhece o Brasil, não tem estrada e não tem propostas para o país.

A dúvida que fica, diante de discursos aparentemente tão contraditórios, é se as palavras do cearense apenas refletem seu incisivo modo de pensar e de se expressar, ou, para além disso, se revelariam afinidade com um certo rei.

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