Ronaldo foi sepultado no Monte Santo após “encontro” com Félix

Multidão acompanhou cortejo / Foto: Hiran Barbosa
Após ser velado no Palácio da Redenção durante o dia, o corpo do ex-governador Ronaldo Cunha Lima chegou a Campina Grande pouco antes das 21h do sábado, no caminhão dos Bombeiros, seguido de um cortejo que acompanhou o féretro no traslado desde a capital. No caminho, autoridades e populares das cidades que estavam no trajeto do féretro saudavam Ronaldo no último adeus.

Já em Campina Grande, logo após a chegada do corpo à Pirâmide do Parque do Povo, foi aberto o acesso ao público e uma fila logo se formou. Jovens, idosos e crianças esperavam pacientemente para a rápida despedida, enquanto diversas autoridades e políticos de todos os partidos chegavam para o velório. O caixão estava coberto pelas bandeiras da Paraíba, de Campina Grande, e do Treze Futebol Clube.

A visitação prosseguiu durante toda a noite. Pela manhã, a missa de corpo presente foi celebrada pelo arcebispo de Natal, Dom Jaime Vieira Rocha, que foi bispo diocesano de Campina Grande e atendeu ao convite da diocese para a cerimônia. Durante todo o dia, milhares de pessoas passaram pelo Parque do Povo.

Por volta das 16 horas, apesar da chuva o cortejo saiu com destino ao cemitério do Monte Santo, acompanhado por uma multidão que seguiu a pé pela Rua Índios Cariris, depois Rua João Pessoa, até o cemitério. Sobre o caminhão do Corpo de Bombeiros, acompanhavam o caixão o senador Cássio Cunha Lima, o governador Ricardo Coutinho e um dos irmãos de Ronaldo, Renato Cunha Lima.

Imagem: Retalhos Históricos de Campina Grande
A menos de um quilômetro do cemitério, houve um “encontro” histórico. O féretro passou pela Praça Félix Araújo (foto ao lado), monumento que homenageia um dos mais importantes entre os principais ícones políticos de Campina Grande, morto em 27 de julho de 1953. Félix, que foi vereador e foi morto quando investigava as contas públicas, é o maior mito da política campinense, espaço que, de agora em diante, dividirá com Ronaldo Cunha Lima.

Os dois estão sepultados no Monte Santo, a poucos metros de distância. A chegada do cortejo ao cemitério foi precedida pelo toque do clarim, executado pela banda da Polícia Militar, e o caixão conduzido sobre um tapete vermelho até o túmulo. O corpo de Ronaldo foi sepultado no jazigo da família, sem discursos, após uma oração, numa cerimônia rápida.

O velório o sepultamento aconteceram tendo como fundo musical a versão instrumental da canção “Luzes da Ribalta”, de Charles Chaplin. A execução da música atendeu a um pedido feito pelo próprio Ronaldo pouco antes da sua morte.

“É um momento difícil, muito dolorido, que ninguém gostaria de viver, mas, como eu tenho dito nestes últimos dias, o Deus que criou a vida fez também a morte. E temos que louvar a Deus pela vida, pela existência do poeta, uma existência digna, uma vida intensa de um humanista acima de tudo. Assim como ele fez em vida, pedindo perdão pelos erros que cometeu, nós também estamos pedindo perdão pelos erros dele, tendo a certeza que ele fez uma passagem extremamente marcante pela vida”, afirmou o senador Cássio Cunha Lima, que também fez um agradecimento: “É preciso agradecer a toda a Paraíba e, especialmente, a Campina Grande por tanta solidariedade e tamanho carinho”.

Autoridades lamentam morte e destacam humanismo de Ronaldo

Saída do corpo do Parque do Povo / Foto: Hiran Barbosa
Um dos primeiros a chegar ao velório, o prefeito Veneziano Vital do Rêgo lamentou a morte de Ronaldo. “Uma ausência que será extremamente sentida por todos nós, que reconhecemos os gestos que foram largos e exemplos que foram marcantes. Ronaldo justificou a sua existência entre nós porque foi um grande advogado, um grande jurista, poeta, homem das letras, foi político por excelência, administrador, humanista e chefe de família”, afirmou. Seu irmão, o senador Vital do Rêgo Filho, revelou ter conversado rapidamente com Ronaldo dois dias antes, durante visita que fez ao ex-prefeito em João Pessoa.

“Apesar da insuficiência respiratória, ele acordou, conversamos um par de palavras e até rimos. Sua passagem será uma lacuna muito sentida porque a construção da história política da Paraíba nos últimos cinqüenta anos foi escrita por homens públicos como Ronaldo e como Vital. E essa geração está nos deixando”, comentou.

Em seguida, o vice-governador Rômulo Gouveia falou que, apesar da tristeza, é precisa exaltar o legado deixado por Ronaldo Cunha Lima. “É um momento de dor, mas também de gratidão a Deus por saber do legado que Ronaldo deixou para todos nós, o aprendizado por uma história de vida. Eu, pessoalmente, me orgulho muito de tê-lo acompanhado desde a sua volta, em 1982. Ronaldo sempre foi um exemplo muito forte e deixa a saudade, a ausência e o legado de um grande humanista”, disse.

“Tive o prazer e a honra de ter convivido com ele e aprendido com ele. O poeta era uma figura muito próxima do povo, representava bem e tinha compromisso com toda a sua gente, vontade de servir, de cuidar, de fazer o bem”, declarou o senador Cícero Lucena, que foi eleito vice-governador na chapa de Ronaldo em 1990 e acabou efetivado no cargo quando o titular renunciou para disputar o Senado.

“A Paraíba está em luto. O céu, em luzes de rimas. Ronaldo se afirma como um dos mais importantes políticos do país. Fica o exemplo, a saudade e o muito que a história haverá de contar sobre essa figura luminosa que foi e que é Ronaldo Cunha Lima. Foi um político que lançou um estilo novo de fazer política, próximo do povo, transformando eleitores em amigos”, ponderou o ex-prefeito Félix Araújo Filho.

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