Eleições UEPB: Para Eliana Maia, "é possível crescer, mas é importante consolidar o que já existe"

Imagem: Divulgação - Assessoria
Eliana Maia Vieira, 57 anos, há 20 anos é professora da UEPB. Graduada em Farmácia e em Bioquímica, especialista em Qualidade e Produtividade e mestre em Bioquímica. Foi pró-reitora estudantil, pró-reitora adjunta de administração e finanças, pró-reitora de graduação e presidente da Comissão Permanente do Vestibular. É professora de bioquímica nos cursos de Odontologia, Farmácia, Enfermagem, Licenciatura em Química e Química Industrial, e atua em projetos de extensão e como membro do colegiado do curso de Farmácia. A professora encerra a série de entrevistas de A União com os reitoráveis.

Por que a senhora quer ser reitora da UEPB? Qual a sua história com a Estadual?

Minha vontade de ser reitora é consequência do trabalho que desenvolvo na universidade há mais de 20 anos. Também tem a ver com o fato de conhecer pedagogicamente e estruturalmente a universidade. Eu vi a criação de muitos cursos e o crescimento destes cursos. Participei da implantação dos novos campi. Conhecendo a universidade e exercendo a função para qual fomos designados é que somos capazes de comandar uma instituição do porte da UEPB.

Caso a senhora seja eleita reitora da UEPB, o que aponta como principal desafio?

Estamos visitando todos os campi e temos percebido que, embora a universidade tenha autonomia há sete anos, ainda falta muito em infraestrutura. Os campi de Catolé do Rocha, Guarabira e João Pessoa, por exemplo, funcionam em escolas públicas sem ter estrutura necessária.

A senhora pretende abrir novos campi? É possível a universidade avançar pelo estado sem comprometer a qualidade do ensino?

É possível crescer, mas é importante consolidar o que já existe. A UEPB não pode ser uma universidade de qualidade enquanto os próprios estudantes reclamam, sobretudo da estrutura física. Ao assumir a reitoria, iremos fazer uma avaliação dos novos campi já existentes e verificar os problemas de cada um.

A UEPB tem problemas relacionados a baixo desempenho de alguns cursos? Quais?

Todas as universidades têm problemas em alguns cursos. Não posso dizer atualmente quais cursos da UEPB sofrem deste problema, mas acredito que na hora em que um curso é criado e que permite o ingresso do aluno nele, a universidade tem que investir bastante para que este curso não seja desqualificado.

Existe um projeto para otimização da infraestrutura do campus de Bodocongó. É possível tornar esse projeto uma realidade?

Acredito que sim, mas este será um grande desafio para a próxima gestão. Foi divulgado na mídia que esta gestão iria trazer alguns centros que não ficam em Bodocongó para a Central de Aulas que está ainda inacabada. Percebemos que não existe uma infraestrutura capaz de receber esta demanda. Não temos um restaurante que comporte nossos estudantes, a biblioteca é muito pequena, o transporte para cá ainda é um problema por conta de termos apenas uma linha de ônibus que circula no campus de Bodocongó, e os que podem vir de carro sofrerão para encontrar vagas. Existe também um problema de segurança.

É possível manter uma política de valorização do professor e dos servidores técnicos sem estourar o orçamento?

Com certeza. Hoje temos aproximadamente 1027 professores e 500 funcionários. É importante saber o número de comissionados. Estamos em greve de técnicos e a universidade não parou. Existem gastos para capacitar um professor, porque exige a colocação de substituto, além do investimento na capacitação, mas acredito que com um bom planejamento poderemos desenvolver um excelente trabalho.

Caso seja eleita, ao assumir tem planos para promover algum enxugamento da estrutura da universidade, sobretudo no que se refere a pessoal comissionado e terceirizados?

Se formos eleitos, só iremos assumir em dezembro. Temos um concurso público para técnico cujo resultado ainda não foi divulgado, mas que deve acontecer até assumirmos. Antes de enxugar os cargos iremos rever quem está comissionado e terceirizado e observar como são as ações destas pessoas na instituição. Não iremos admitir um funcionário contratado que não trabalhe assiduamente.

Como a senhora analisa a atual gestão, que tem à frente, desde 2004, a reitora Marlene Alves?

Sou oposição a esta gestão. Por conhecer a forma de gerência. Não temos nada contra as pessoas que estão administrando, mas contra o projeto desenvolvido. É uma administração centralizadora. Houve crescimento na UEPB, principalmente no investimento na pós-graduação. Apesar disso, estes cursos serão avaliados, e veremos que onde há problema é principalmente na estrutura, que deveria ter sido mais bem apreciada por esta gestão e não foi.

Quem a senhora apoiou nas eleições para reitor de 2004 e 2008?

Em 2004 eu não só apoiei como militei para a gestão da professora Marlene. Em 2008, já estando na gestão, apenas votei sem fazer militância. Tornei-me oposição por ter acreditado em uma nova proposta para a universidade e me decepcionei por não ver os resultados que foram prometidos.

Há, nesse momento, um desgaste na relação entre o Governo do Estado e a reitora Marlene Alves. Como a senhora analisa essa crise?

Esta relação entre a reitora e o Governo é uma relação política e, apesar da reitora ter o direito de participar de um partido e de militar em sua candidatura à prefeitura, ela não tem o direito de trazer isso para a universidade, dando a impressão que o governador é uma pessoa política. Vejo o governador com muito respeito e como a pessoa que administra o Estado, independente de partido.

O fato de a reitora Marlene Alves ser pré-candidata a prefeita de Campina Grande interfere de alguma forma nessa crise?

Falando politicamente, está sim. As pessoas precisam saber que o reitor tem seu lado político, uma vez que ele é eleitor e tem direito de votar, mas isso não pode interferir na gestão. Esta crise começou quase que ao mesmo tempo em que ficou definido que a atual reitora seria candidata à prefeita.

Caso seja eleita, como a senhora pretende contornar essa crise de relações com o governo? É possível chegar a um consenso?

Acredito que sim. Precisamos antes conhecer a realidade do que está acontecendo. Sabemos que a prestação de contas é necessária. A UEPB é um dos órgãos que mais recebe dinheiro do Estado, houve até superávit. A universidade precisa guardar dinheiro quando ainda acontecem tantas carências? Talvez seja por isso que o Governo esteja querendo saber onde está sendo aplicado este dinheiro. A reitoria, entendendo que não deve dar satisfação, acabou gerando esta polêmica.

Falta transparência na UEPB? É possível tornar a administração mais transparente?

É possível, mas, para isso precisamos entender o que significa a transparência. Ser transparente não é simplesmente colocar números em planilhas. A transparência é na verdade planejar e discutir com a comunidade acadêmica quais os problemas e as prioridades de cada setor, departamento ou curso, para só então investir de acordo com o resultado desta discussão.

No ano passado e também este ano, houve sérios debates no âmbito da universidade diante de propostas de greve. Qual foi sua posição nestes dois momentos? Foi contra ou a favor da greve?

No ano passado fui do comando de greve. Eu me decepcionei com esta experiência uma vez que vi muita manipulação, além do fato de que o sindicato dos professores não apoiava a greve, tanto que me afastei do sindicato. Este ano houve apenas a greve dos servidores. Tenho respeito a eles, pois estão lutando por aquilo que acham que têm direito.

O processo eleitoral municipal, com eleição para prefeito e vereador, de alguma forma tem interferido na UEPB nos últimos meses? E pode estar interferido no processo para eleição da reitoria?

Não acredito. Estou na universidade há muito tempo e participei de vários períodos eleitorais, inclusive quando as eleições aconteciam em outubro. Em 2008 ela foi transferida para maio com a justificativa de que havia interferência por acontecer na mesma época das eleições municipais. O que está interferindo é a questão da candidatura da atual reitora, que está causando uma discussão política muito forte dentro da instituição.

É possível manter uma campanha pela reitoria em alto nível? Essa eleição pode dividir os professores e servidores técnicos com efeitos que se prolonguem até depois do processo eleitoral?

A nossa campanha, desde o princípio, tem o objetivo de discutir com a comunidade acadêmica propostas voltadas para a UEPB, mantendo o alto nível. Infelizmente, criou-se uma sensação de medo entre os servidores e professores, que estão com receio de apoiar alguém e ser prejudicado no futuro caso o candidato no qual irá votar não vença a eleição. O futuro reitor ou reitora, após assumir, tem que passar a ver as pessoas como uma unidade, não importa em qual chapa tenham votado.

Como enxerga o futuro da UEPB a curto, médio e longo prazo?

A minha previsão, baseada no cargo para o qual estou competindo, é feita para quatro anos, que é o tempo em que dura o cargo de um reitor. Caso a proposta feita não seja realizada em quatro anos, o próximo reitor ou reitora deverá dar continuidade ao que foi iniciado em outras gestões. Pretendo continuar com os projetos da atual reitora, principalmente no que diz respeito à estruturação do campus de Bodocongó. A UEPB tem capacidade de se tornar uma universidade melhor do que ela é se em curto e médio prazo forem feitas as obras necessárias em quesito de estruturação física e criação de laboratórios para os cursos, além de facilitar o acesso dos estudantes aos campi.

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A série teve questionário formulado por Edson Souza e Lenildo Ferreira
Repórteres: Kalienne Antero, Philipy Costa e Diogo Almeida
Motorista: Gustavo Almeida

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