REPORTAGEM: 'AQUI, A ESTRELA NÃO BRILHA TANTO' - PT PARAIBANO SE MANTÉM APENAS COMO UMA SOMBRA DO PT NACIONAL

O Partido dos Trabalhadores completou, em fevereiro, 31 anos, com muito a comemorar. Após mais de duas décadas lutando para se firmar nos estados e conquistar prefeituras de cidades importantes, a legenda finalmente chegou à Presidência da República, depois de três tentativas, sem sucesso, de Luiz Inácio Lula da Silva, que, além de reeleito, fez, em seguida, sua sucessora, Dilma Rousseff.

Atualmente, além de ocupar a presidência, o PT tem a maior bancada na Câmara Federal, com 86 deputados, e a segunda maior bancada no Senado, com 15 senadores, atrás apenas do PMDB. É o terceiro em número de governadores, empatado com o PMDB, comandando cinco estados (O PSDB elegeu 08; o PSB, 06). Também em 2010, a sigla de Lula e Dilma elegeu o maior número de deputados estaduais em todo o Brasil: 149. Voltando um pouco mais no tempo, nas últimas eleições municipais, em 2008, o PT ficou em terceiro lugar em número de prefeitos eleitos (atrás do PMDB e PSDB), com vitórias em 557 cidades, e fez o maior número de vereadores nas capitais dos estados.

No entanto, apesar de todo o sucesso do PT no cenário nacional, aqui na Paraíba o partido parece ter encolhido. A legenda foi mero coadjuvante nas eleições estaduais do ano passado. Elegeu três deputados estaduais (Luciano Cartaxo, Anísio Maia e Frei Anastácio) e um deputado federal (Luiz Couto). E ainda desempenhou um patético papel no processo de escolha do vice na chapa do à época governador e candidato à reeleição José Maranhão, que excluiu publicamente Luciano Cartaxo, então vice-governador, ao pressionar o prefeito de Campina Grande, Veneziano Vital do Rêgo, para compor a chapa.

Após repetidos constrangimentos, Cartaxo resolveu lançar-se candidato a deputado estadual e o presidente do PT, Rodrigo Soares, acabou sendo o vice somente pela indisposição de Veneziano e do seu irmão, o então deputado federal Vital do Rêgo Filho, de ocupar o espaço. O mais curioso é que o PT engoliu a seco o comportamento de Maranhão, mesmo havendo uma briga entre todos os candidatos a governador e senador pela vinculação à imagem do presidente Lula (imagem a baixo), que ostentava índices recordes de aprovação popular – e a imagem de Lula era patrimônio do PT.

Voltando no tempo, em 2008, mesmo com o “efeito Lula”, o partido da estrela abriu mão de disputar as prefeituras das principais cidades da Paraíba. Resultado: hoje, são apenas seis prefeitos, em pequenos municípios: José Martinho, em Gurjão; Pedro Feitosa, em Ibiara; Jarbas Correia, em Livramento; Polliana Feitosa, em Pombal; Raimundo Antunes Batista (Doutor Raimundo), em Santa Cruz; e Marcilene Sales, em São Miguel de Taipu. Com isso, foi apenas o nono em número de prefeitos eleitos na Paraíba, ficando atrás do PMDB (60 prefeitos), PSDB (40 eleitos), DEM (39), PTB (23), PR (15), PSB (12), PP (11) e PDT (07). São números que confirmam que o PT estadual é apenas uma sombra do que representa o partido no cenário nacional.

Acontece que, na Paraíba, o maior problema do PT são os petistas, que simplesmente não conseguem se entender. Eleição após eleição, o partido tem marchado profundamente dividido, como aconteceu no ano passado, quando existiam duas facções na legenda: os petistas seguidores de Luiz Couto, que perdeu a presidência do partido numa eleição tumultuada, permeada por denúncias que iam desde irregularidades até a suposta intervenção do governador (José Maranhão) no processo, apoiaram Ricardo Coutinho; os petistas seguidores de Rodrigo Soares, presidente após vencer Couto, faziam campanha para Maranhão.

Acima, Rodrigo em campanha ao lado de Maranhão;
Abaixo, Couto na TV sem propaganda do PMDB
A confusão foi tamanha que Luiz Couto, recusando-se a aparecer num cenário que fazia propaganda do candidato do PMDB, foi retirado do guia eleitoral na TV pela direção do partido, e teve que recorrer à Justiça para retomar seu espaço na televisão. Também em 2010, o lançamento da candidatura do então deputado estadual Jeová Campos a deputado federal foi visto como uma tentativa de Rodrigo Soares de impedir a reeleição do correligionário e desafeto Luiz Couto, o que acabou não acontecendo. Couto teve 95.555 sufrágios, a quinta maior votação, enquanto Jeová somou apenas 66.741 votos.

No balanço de 2010, apesar de ter perdido o comando do diretório estadual, Luiz Couto levou vantagem sobre Rodrigo Soares, que deixou a Assembleia Legislativa e foi derrotado, junto com Maranhão, por Ricardo Coutinho, aliado do padre. Como sempre, foi petista vencendo petista, para o mal do PT. Essa autofagia fez com que a sigla perdesse importantes lideranças na última década, a exemplo do próprio Ricardo Coutinho, da ex-prefeita campinense Cozete Barbosa e do ex-deputado Avenzoar Arruda, que teve um relevante desempenho na eleição para governador de 2002, quando somou mais de 200 mil votos.

Promessa de candidaturas próprias em 2012

Na noite da última terça-feira, o diretório estadual do PT lançou, em evento realizado em João Pessoa, o chamado “Fórum em Defesa da Candidatura Própria”. Numa coletiva à imprensa, Rodrigo Soares defendeu a importância das candidaturas próprias, e destacou que o partido tem um bem-sucedido modelo de gestão, tipificado nos governos de Lula e Dilma. “Queremos levar a experiência do partido com os governos do presidente Lula e da presidenta Dilma para as administrações das cidades da Paraíba. Disputaremos as principais cidades do estado e trabalharemos para a reeleição dos prefeitos das cidades já governadas pelo PT. O fórum demonstra a importância da defesa do protagonismo do PT, que é uma discussão cada vez mais unificada no partido”, falou, na ocasião.

O projeto de candidatura própria nas principais cidades teria sido reforçado após uma reunião entre Rodrigo e o presidente nacional do partido, Ruy Falcão, em Brasília, no fim do mês passado. O deputado estadual Luciano Cartaxo (foto ao lado), pré-candidato a prefeito de João Pessoa, acompanhou Rodrigo na conversa com Ruy Falcão.

Em nota recentemente divulgada pela assessoria do PT, Cartaxo já mostra que uma das suas bandeiras de campanha será justamente o fato de ter uma correligionária na presidência da República. “O melhor caminho para o PT é lançar uma candidatura própria à prefeitura de João Pessoa, pois temos a perspectiva de governar a cidade, com o apoio da presidente Dilma Rousseff e, no momento oportuno, discutiremos o assunto”, disse.

Na mesma nota, Rodrigo Soares reforça o discurso. “João Pessoa é uma cidade que tem uma simpatia pelo PT, Lula e Dilma venceram bem as eleições gerais na capital, e nossos parlamentares estaduais e federais estão entre os mais votados. Além disso, o PT tem uma experiência em governar o Brasil e várias capitais que nos dá a oportunidade de apresentar propostas e idéias concretas para nossa capital”, comentou. Um outro nome cogitado para representar o PT na disputa majoritária em João Pessoa é o de Luiz Couto, que, todavia, ao contrário de Cartaxo, ainda não manifestou tanta disposição para a empreitada.

Em Campina Grande, a militância também fala em candidatura própria e o indicado seria o presidente do diretório municipal, Alexandre Almeida (foto à esquerda). Acontece que, ao contrário do que acontece na capital, não há petistas de peso (do ponto de vista eleitoral) em Campina. Alexandre foi apenas um modesto e pouco destacado secretário da prefeitura. Por isso, se conseguir indicar Alexandre para vice em uma chapa com o PMDB, o PT campinense possivelmente já se dará por satisfeito.


Matéria nossa publicada no Diário da Borborema deste domingo

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