SAÚDE: UM PROBLEMA MORAL


A saúde pública no Brasil é muito ruim, independente da esfera de gestão, se municipal ou estadual. E é ruim por diversos fatores conhecidos, dos quais os principais são a escassez de recursos e a má gestão do setor. Há, porém, um outro fator primordial que raramente é trazido à tona e que, todavia, precisa ser discutido e trabalhado: é a humanização – ou, mais precisamente, a falta dela – no atendimento. Não é possível que limitemos o foco do debate sobre a saúde pública, setor que lida com a dor, a fragilidade e a vida humana, meramente aos seus aspectos financeiros e administrativos.

Esse tema precisa ser analisado por um ângulo complexo, mas fundamental. Há, para além dos limites de recursos e de gerenciamento do setor, uma deficiência de ordem moral profunda na saúde pública. A frieza, a indiferença e mesmo a grosseria com que, técnicos, atendentes, enfermeiros e, sobretudo, médicos tratam os pacientes pobres é uma realidade torpe, mas, infelizmente, comum. È quase uma regra, com raras exceções.

A saúde se tornou um grande negócio, um nicho comercial de lucro garantido. Assim, pacientes passaram a ser vistos como clientes, e suas dores se tornaram produto lucrativo. Dentro dessa lógica, quanto pior for o atendimento no SUS, mais as pessoas, mesmo trabalhadores das classes menos abastadas, farão de tudo para bancar, dentro das suas possibilidades, o atendimento privado. E, ainda dentro dessa lógica puramente financeira, aqueles que vão procurar socorro na rede pública são tratados como quem recebe um favor.

Tanto é assim que os pobres enfermos tremem diante do jaleco branco, mesmo que do técnico em enfermagem, e mais ainda quando é o do “doutor”. Ninguém quer que médicos e seus assistentes chorem pela dor dos pacientes ou ponham luto quando um deles morre. É preciso, apenas, que não esqueçam que têm diante de si um ser humano, e que essa condição deve se sobressair sobre todas as demais, inclusive a financeira. Um problema moral não se resolve apenas com aporte de mais recursos.

Responsabilidade

Sobre a greve dos médicos, o secretário da Saúde, Waldson de Souza, e o governador Ricardo Coutinho devem dialogar com a categoria, mas, aqueles que abandonaram plantões, vitimando inocentes, precisam ser responsabilizados por isso.

Terrorismo

Se esse processo passar sem que os médicos que abandonaram plantões, negligenciando o atendimento aos pacientes, inclusive com caso de morte, sejam responsabilizados na forma da lei (e espera-se que não seja brandamente), o Governo do Estado assumirá para si essa responsabilidade, e estimulará novos gestos de terror contra a população.

1 Comentários

Rômulo disse…
Sobre o fato de médicos abandonarem plantões. Tudo começa com a opção que o estado faz em ter estes profissionais. Onda a maioria são prestadores de serviço e não fazem concurso com o valor de salário base digno para um médico. O prestador de serviço não tem vínculo, pode pedir dispensa mo momento que desejar, desde que avise com 72 horas de antecedência. Apenas vínculos com CLT existe a exigência de Aviso Prévio. Na Paraíba, houve uma redução salarial de 36% nos plantões médicos sem discussão da categoria, ocorrido nos salários de abril. Como o pagamento de abril tem como base a frequencia de fevereiro, todos neste mês não sabiam que teriam seus plantões cortados. Deram o plantão acordado por um valor e receberam outro. O Governo subtraiu (para não dizer roubou) dinheiro dos médicos. Desde abril começou um movimento que culminou final de maio e início de junho e por não terem sequer sido recebidos pelo governo, alguns pediram demissão. Qual é o problema nisso? Pelo fato de ser médico não se pode pedir demissão? Foi dado o tempo mínimo exigido por lei e cabe agora o Estado negociar ou ver como fica.