REPORTAGEM: POLÍTICOS DA PARAÍBA TÊM BENS MULTIPLICADOS

A multiplicação por vinte, em apenas quatro anos, do patrimônio do hoje novamente ministro Antônio Palocci (PT) chegou ao Congresso Nacional com ares de escândalo, deixando a oposição ao governo Dilma Rousseff assanhada e obrigando a tropa de choque governista a entrar em ação, com seu grande poder de fogo. Diante da repercussão da polêmica, vale a pena conferir a evolução (e, em alguns casos, a involução) do patrimônio dos parlamentares paraibanos, com base em dados disponíveis no portal do Tribunal Superior Eleitoral. Essas informações são públicas e os candidatos são obrigados a prestarem contas, a cada eleição, do seu patrimônio. Os dados que passamos a apresentar, portanto, não apresentam nenhuma análise ou questionamento quanto à veracidade, legitimidade e legalidade da variação patrimonial dos nossos representantes no Congresso Nacional e na Assembleia Legislativa.

De acordo com o TSE, entre 2006, quando elegeu-se deputado estadual, e 2010, quando conquistou uma cadeira na Câmara Federal, Aguinaldo Ribeiro (PP) foi o parlamentar do estado a registrar o maior aumento de patrimônio. Em 2006, Aguinaldo declarou à Justiça Eleitoral ter bens totais no valor de R$ 1.350.998,42; em 2010, esse total pulou para R$ 3.575.094,34, ou seja, um aumento superior a R$ 2,2 milhões. O que quer dizer que o deputado, de 42 anos, “enriqueceu” mais de meio milhão por ano.

Em 2006, os principais bens do pepista eram cinco apartamentos em um edifício de João Pessoa, no valor total (informado) de R$ 290 mil, além de vários lotes no Bessa, avaliados em R$ 230 mil, e um terreno no número 647 da Avenida Ruy Carneiro, também na Capital, então com valor apresentado de R$ 100 mil. Já na declaração de 2010, o maior bem de Aguinaldo foi um fundo de investimento de R$ 532 mil, seguido de R$ 480 mil que o deputado declarou ter em espécie. O patrimônio milionário do parlamentar é complementado por vários imóveis e aplicações financeiras. O segundo maior enriquecimento no intervalo entre as duas últimas eleições gerais foi o do deputado estadual João Henrique.

Em 2006, o demista declarou um patrimônio que totalizava R$ 742.963,89 e saltou, em 2010, para R$ 1.851.920,43, uma engorda de R$ 1.108.956,54. Em 2006, os principais bens declarados por João foram uma propriedade no município de Salgadinho, avaliada em R$ 109 mil, e a participação no capital social de uma empresa de mineração, R$ 100 mil. Em 2010, estava no topo da lista o valor de R$ 820 mil em espécie, uma montanha de dinheiro vivo; em seguida, veio uma conta corrente de R$ 184 mil. Completam a relação dos maiores crescimentos patrimoniais a deputada estadual Francisca Motta (PMDB), que pulou de R$ 957.428,42 em 2006 para R$ 1.788.876,26 em 2010 (mais R$ 831.447,84); o deputado federal Ruy Carneiro (PSDB), que, no mesmo período, aumentou de R$ 205.640,00 para R$ 815.825,00 (mais R$ 610.185,00); e Lindolfo Pires (DEM), que saltou de R$ 288 mil para R$ 893.159,38, ou seja, mais R$ 605.159,38.

Percentualmente, as duas maiores evoluções patrimoniais foram as do deputado estadual Raniery Paulino (PMDB) e do federal Efraim Filho (DEM). Em 2006, Raniery apresentou uma declaração de bens totalizando R$ 95.714,31; em 2010, foi de R$ 484.384,00, o que implica em um crescimento de R$ 388.669,69, ou seja, 406,1%. Já Efraim Filho, cujo “enriquecimento” teve repercussão até em um programa humorístico de rede nacional, pulou de R$ 142.060,90 em 2006 para R$ 718.782,40 em 2010, um aumento de R$ 576.721,50, ou 406%.

Oscilação também registrou ‘empobrecimento’

Enquanto alguns parlamentares paraibanos enriqueceram substancialmente, outros acabaram empobrecendo. Em números reais, o caso mais grave foi o do deputado estadual Tião Gomes (PSL). Ele declarou em 2006 bens no valor total de R$ 742.125,55 que, em 2010, caíram para apenas R$ 426.605,35, uma redução de R$ 315.520,20, equivalente a 42,5%. Em seguida, vem o senador Wilson Santiago (PMDB), que perdeu R$ 266.190,72, caindo de um patrimônio de R$ 926 mil em 2006 para R$ 659.809,28 em 2010, o que dá menos 28,7%. O terceiro maior empobrecimento foi o do deputado estadual Antônio Mineral (PSDB), que, no mesmo período, deixou de ser milionário, variando de R$ 1.025 milhão para R$ 765 mil, queda de R$ 260 mil, ou 25,4%.

Já o líder da oposição na Assembleia Legislativa, André Gadelha (PMDB), não foi candidato em 2006. Todavia, entre 2008, quando disputou e perdeu a prefeitura de Sousa, e 2010, André também teve uma baixa no patrimônio: R$ 231 mil para R$ 214.067,03; menos R$ 16.932,97 ou 7,3%. Percentualmente, a maior queda foi a do deputado estadual Vituriano de Abreu (PSC), que despencou de R$ 281.795,00 em 2006, quando foi candidato a segundo suplente de senador (de Ney Suassuna), para R$ 112.055,00 no ano passado, redução de R$ 169.740,00 – nada menos que 60,2%. O segundo maior percentual de empobrecimento foi o do deputado federal petista Luiz Couto, de R$ 114.578,22 em 2006 para R$ 63.079,84 em 2010, queda de R$ 51.498,38, ou seja, menos 44,9%.

Dois bons exemplos de oscilação são os deputados estaduais João Gonçalves (PSDB) e Aníbal Marcolino (PSL). Entre 2006 e 2010, os dois empobreceram substancialmente. Mas, como também foram candidatos em 2008 – João a prefeito de João Pessoa e Aníbal a vereador – podemos perceber mais claramente a variação. Em 2006, Aníbal Marcolino declarou bens que totalizaram R$ 300 mil. Dois anos depois, seu patrimônio havia sido reduzido pela metade, caindo para R$ 153.256,74. No ano passado, a declaração totalizou R$ 173.256,74, uma ligeira alta em relação às eleições municipais, mas uma queda de 42,2% (ou R$ 126.743,26 mil) em comparação com 2006.

Já João Gonçalves informou possuir um patrimônio de R$ 190 mil em 2006, que, apenas dois anos depois, caiu para apenas R$ 30.788,51 mil e, no ano passado, subiu para R$ 130.278,00. Apesar da recuperação, o tucano perdeu R$ 59.722,00 (31,4%) entre 2006 e 2010.

O frei pobre e o estudante milionário


O deputado estadual petista Frei Anastácio infirmou tanto em 2006 quanto em 2010 não ter qualquer bem a declarar. Situação bem diferente da do deputado federal Wilson Santiago Filho, de apenas 21 anos, que, além de estudante, preencheu a ficha de candidato no ano passado com a ocupação de empresário, e um patrimônio vultoso de nada menos que R$ 4,8 milhões. Em comparação com o filho, o senador Wilson pai, com bens totalizados em R$ 659.809,28, é um pobretão. Não é à toa que o rapaz já figurou na lista dos mais ricos congressistas do Brasil.

Outro imberbe deputado federal, Hugo Motta (PMDB) soma R$ 141 mil em bens. Não é possível comparar a evolução patrimonial dos dois jovens porque eles não haviam sido candidatos anteriormente. Mesmo caso de Nilda Gondim (PMDB) – que no ano passado declarou um patrimônio de R$ 243.937,66 – e de alguns outros deputados estaduais. Não é também possível analisar a variação de Ricardo Marcelo (PSDB), presidente da Assembleia Legislativa, que em 2010 apresentou um balanço superior a R$ 1 milhão, nem do deputado federal Romero Rodrigues (PSDB), que na última eleição declarou R$ 794.694,00 mil, porque a relação de bens dos dois tucanos na base de dados do TSE em 2006 não disponibiliza valores.

Publicado em O Diário da Borborema e O Norte de 29 de maio

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