NOSSOS FANTASMAS

A divulgação de uma lista com nomes de supostos funcionários fantasmas e pessoas mortas que recebiam salários do Governo do Estado em gestões anteriores virou mote das conversas por toda a Paraíba – dos velhinhos do calçadão da Cardoso Vieira aos deputados na Assembleia Legislativa. Essa história já rendeu de tudo: revolta, indignação, vergonha, gracejo, piada.... E, claro, acima de tudo rendeu muita discussão, exploração e controvérsia política.

Para os adversários mais ardorosos e críticos mais vorazes do ex-governador José Maranhão, a lista foi um prato cheio, a oportunidade imperdível de lançar sobre sua imagem uma nódoa assombrosa, cutucar o velho peemedebista em meio ao seu degredo, quem sabe lançar uma pá de terra e cal sobre suas eventuais pretensões políticas. Da parte dos poucos amigos remanescentes de Maranhão e dos muitos adversários do também ex-governador Cássio Cunha Lima, a saída é desqualificar a tal lista ou, pelo menos, estender seus efeitos até o tucano.

Enfim, a revelação de mortos e fantasmas recebedores de vencimentos no Estado já rendeu muita coisa, exceto aquilo que deveria render: uma apuração séria, um debate acima de querelas partidárias e interesses políticos. A partidarização de todas as discussões é uma das maiores pragas da Paraíba. Já é hora de enxergarmos fatos como este com um olhar que não seja entorpecido pelas lentes dos interesses pessoais ou partidários.

Já é hora de a Paraíba acabar com o discurso simplista e maniqueísta de bom e mau. Já passa da hora de pormos fim à personalização dos governos, que limita e compromete a percepção crítica dos seus atos e divide-nos em duas colunas: uma de defensores inexoráveis, outra de acusadores inexoráveis. Sempre há um lado tentando fazer pipocar um escândalo terrível. Sempre há um lado querendo minimizar um escândalo terrível. E sempre há um lado praticando, na surdina, um escândalo terrível. Esses são nossos maiores fantasmas. Fantasmas que parecem não nos assombrar.

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