GREVE DA UEPB: BRAÇOS ERGUIDOS


Ontem, houve um gesto digno da História. Contrariando prognósticos, por ampla maioria, os professores da Universidade Estadual da Paraíba resolveram por fim à greve iniciada na semana passada. Descruzaram seus braços, braços de trabalhadores, que foram erguidos pelo fim de um movimento que perdia o sentido. Mais que isso – foi um gesto profundamente simbólico. Firmes, esses braços se ergueram contrários à vinculação dos professores a esquemas partidários, a joguetes políticos, a intentonas eleitorais.

Foram além: ergueram-se para impedir que a UEPB, patrimônio inestimável da Paraíba, tenha sua história gloriosa de lutas maculada por manobras estranhas. Antes da votação, ouviu-se gritos, apupos, até xingamentos de uma minoria dentro da minoria, que passava a sensação de que aquela era a maioria. Todavia, com seu gesto silencioso, a maioria dos professores ensinou-nos ontem uma lição: a razão não busca ganhar no grito e a sobriedade de silentes braços levantados faz calar o alarido mais histérico.

Aqueles que defendiam a manutenção do movimento o faziam, via de regra, não por vinculações partidárias, mas por consciência e entendimento divergentes da tese que findaria prevalecendo. Ocorre que, entre eles, havia um grupo minoritário – mas barulhento – que, conforme denunciou um professor na tribuna, agia por razões politiqueiras. Gente vinculada a estratagemas partidários e gente armando palanque para as eleições da reitoria, que acontecem em 2012.

Até uma claque, uma dúzia de jovens alunas, foi escalada para, aos berros, tumultuar a assembleia, xingar quem defendia o fim da greve e apupar a imprensa. Como pode: alunos advogando, “amundiçadamente”, a continuidade de um movimento grevista? Houve até uma professora que passou todo o tempo do seu discurso citando Karl Marx e culpando a imprensa pela rejeição da opinião pública à paralisação! Felizmente, o silêncio sensato de braços erguidos pôde prevalecer sobre brados e algaravias. Ontem, houve um gesto digno da História.

Lamento

O professor Nelson Júnior lamentou o fim da greve. “Avaliamos que a proposta encaminhada pelo governador não contemplava a defesa da autonomia, porque o estado tem uma dívida com a UEPB de R$ 40 milhões e só reconheceu a dívida de dezembro”.

Luta segue

Mesmo com o encerramento da paralisação, Nelson Júnior acredita que os professores terminaram fortalecidos. “Há muitos anos não havia assembleia geral como houve na semana passada, quando aprovamos a greve, e hoje. Infelizmente, não passou a posição de continuidade da greve, mas vamos procurar resolver as pendências da universidade”.

Decisão

Já o professor José Cristóvão de Andrade, presidente da AduePB, avaliou positivamente o término da greve. “A decisão de hoje não é uma decisão de um grupo, mas de toda a UEPB. A volta às atividades é uma vitória de todos nós que fazemos a universidade”.

Equilíbrio

Foi do pró-reitor Rangel Júnior uma das falas mais contundentes em favor da volta ao trabalho. “Não posso antecipar que o governador cumprirá o compromisso que assumiu; mas não posso partir do princípio de que o governador está sendo desonesto. A nossa luta não pode ser uma coisa insana, em que temos que ir pra cima, pra cima e pra cima”.

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