FATALIDADE BRASILEIRA


O discurso da professora Amanda Gurgel, que deixou atônitos os deputados do Rio Grande do Norte durante uma audiência pública para tratar da greve dos docentes daquele estado, caiu na rede e repercutiu em todo o país, encetando uma oportuna discussão sobre educação no Brasil. Não há, na sua fala, nenhuma eloqüência floreada, nenhuma preocupação com a beleza oratória. Há, apenas e tão somente, um ponto marcante no discurso da professora: a verdade – ou um conjunto delas, enfeixadas numa carga de verdades que não podem ser contestadas.

E esse ponto fez do pronunciamento da professora uma fala brilhante. Ela conseguiu silenciar as contradições dos ditos especialistas em educação, ao afirmar, com suave contundência, que especialistas de verdade são eles, os professores, porque vivem o cotidiano árduo da educação nesse país. Calou o onipresente cabo de guerra político, ao ressaltar que, lá – e vale para cá, e vale para alhures e algures – em nenhum governo a educação jamais foi prioridade.

Desmoralizou os números vultosos dos governantes, ao expor os minguados três dígitos do seu contracheque. Fez, também, uma seríssima pergunta: “Estamos aceitando a condição precária da educação como uma fatalidade?” Eis o cerne da questão. O Brasil resolveu tolerar a condição precária da educação, da saúde e da segurança pública, tripé básico da ação pública, como uma fatalidade, um quadro possível apenas de ser melhorado, nunca de ser transformado. Essa visão, contudo, tem um motivo.

Para inverter tal realidade, seria necessário inverter, primeiro, a lista de prioridades públicas. No Brasil, o Estado existe para bancar o próprio Estado. A maior parte dos recursos municipais, estaduais e federais é consumida para custear a própria máquina. Do que resta, apenas uma parte é destinada à educação, saúde e segurança. E, no meio, ainda ocorrem os desvios. No fim, querem, como disse Amanda Gurgel, colocar o professor na sala de aula, com um giz e um quadro, e a missão impossível de salvar o país.

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