SAÚDE: UM DEPOIMENTO

Em resposta ao artigo “O problema médico”, do Diário Político de ontem, chegou-nos e-mail de uma profissional que atua na área da saúde. Como todo testemunho sobre a má qualidade do atendimento prestado por médicos, notadamente (embora não exclusivamente) no SUS, são declarações fortes. E legítimas. Ela começa abordando um tema cada vez mais polêmico, referente aos obstetras: a opção pelo parto cesariano por conveniência do médico.

“Como é possível que um profissional indique uma cesariana sem nenhum critério médico, apenas porque paga melhor na rede particular? E como é possível que esse mesmo profissional deixe uma mãe com doze, quatorze horas em trabalho de parto sofrido, violento e por vezes fatal para o bebê e para a mãe, apenas porque essa mãe é da rede pública? Você não tem idéia! Até as feições do médico mudam, dependendo da condição financeira da paciente”, afirma.

Segue o testemunho. “Passando para outras categorias, chegamos a cirurgiões infantis, que esperam pelo fim do plantão e passam adiante crianças com crises de apêndice para serem cirurgiadas pelo próximo plantonista, já que uma cirurgia demanda acompanhamento posterior. Ortopedistas que indicam material de cirurgia até 20 vezes mais caro do que aquele que é dado de graça pelo Ministério da Saúde, apenas para ganhar comissão do fabricante”, diz. E conclui.

“É triste a situação. Médicos não querem trabalhar no interior, e aqueles que o fazem não cumprem horário, plantões. Médicos dos PSF se recusam a dar as oito horas exigidas, pois isso atrapalha o atendimento no consultório. Médicos que distribuem receitas apenas para se livrar de um paciente, com consultas que mal chegam aos 10 minutos”.

São declarações de quem conhece a fundo a realidade da saúde pública. Conforme já registramos ontem, é claro que há exceções nesse quadro absurdo. Mas, a atuação dos médicos precisa estar no topo da lista de problemas da saúde pública a serem urgentemente corrigidos.

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