OPINIÃO: CARTÃO DE NATAL

O escritor inglês Charles Dickens era um homem que amava o período natalino. “O natal é um tempo de benevolência, perdão, generosidade e alegria. A única época que conheço, no calendário, em que homens e mulheres parecem, de comum acordo, abrir livremente seus corações”, dizia. Partindo dessa concepção de Dickens, poderíamos estabelecer alguma relação entre a política e o natal? Parece improvável. No máximo, o paralelo de uma débil esperança.

Em ambos os casos há uma cada vez mais tênue expectativa por dias melhores, maior comunhão entre os homens, menos egoísmo, mais justiça. A política promete minorar dores, confrontar problemas, erradicar a miséria, tratar os homens com mais igualdade. É como se fosse um Papai Noel, que aparece de dois em dois anos e em quem a gente, mesmo velho e calejado o suficiente para saber que Papai Noel não existe, ainda que por alguns instantes queda-se a querer crer. É que todos nós temos uma profunda necessidade de esperança para viver.

Mas o choque entre realidade e sonho é inevitável, e abala nossas esperanças. Os escândalos, as falcatruas, a indiferença, o oportunismo e toda a fauna de vexames de nossa política não demonstram ter muito a ver com o famoso espírito de natal. O saco do Papai Noel político parece só dispor de presentes para os seus – para eles, aumento de R$ 10 mil, para o trabalhador, R$ 40. Agora, se o contraponto entre política e natal for feito a partir de um ponto de vista negativo, as coincidências são mais fartas.

Os religiosos criticam a futilidade em que se transformou esse período: só se pensa em comer, beber, festejar e ganhar presentes. Ou seja, discursos à parte, só se pensa no agora, no instante fortuito. Igualzinho ao que ocorre na política, sobretudo em época de eleição, não é mesmo? Pois bem. Esta semana, recebi um belo cartão de um deputado federal, desejando-nos “um feliz natal e um próspero ano novo”. Bem que deveria devolver a gentileza, respondendo: “Com vocês em Brasília, isso está difícil”.

Natalinos

O espírito do natal parece ter tomado os corações dos senadores em fim de mandato Efraim Morais, do Democratas, e Roberto Cavalcanti, do PRB. Em suas despedidas no Senado, esta semana, os dois adversários trocaram afetuosos elogios.

Falando nele

Efraim está completando 28 anos de mandatos consecutivos. Apesar de estar há oito só no Senado, não conseguiu se reeleger, amargando um quarto lugar, sendo, na verdade, o último colocado entre os principais candidatos. Em sua despedida, disse ter cumprido seu papel, na luta pelos direitos dos paraibanos e pelo aprimoramento da democracia.

Ano bom

O governador eleito Ricardo Coutinho deve ter recebido mais este ano do que pediu no natal passado. O maior presente, de certo, foi a vitória numa eleição histórica, sobre um adversário que passou a maior parte da campanha como favorito absoluto.

Ano ruim

Já o ex-governador Cássio Cunha Lima anda de mal com Papai Noel. Após um 2009 desastroso, Cássio planejou a volta por cima ajudando a derrotar o arquirrival Maranhão e conquistando uma eleição consagradora para o Senado. Atingiu a primeira meta, foi eleito com grande votação, mas, até aqui, vê um adversário caminhando para sua vaga.

Presente

O governador José Maranhão já disse que não pretende se aposentar. Quer continuar na política e, embora avise que não procura emprego, deve estar esperando seu presente.

Dilma, não

Para o governador Maranhão, a presidenta eleita Dilma Rousseff não foi a Mamãe Noel que alguns por aqui especulavam. O paraibano nunca esteve em sua lista de ministros.

Troca de cartões

Quem não tem curiosidade de saber o que Cássio escreveria num cartão de natal para Maranhão e o que Maranhão escreveria para Ricardo? O que Ricardo diria a Maranhão?

Mensagem para você

Aos amigos leitores, nosso profundo desejo de um natal de paz, saúde e felicidade. Que nossas melhores esperanças possam, ainda que contra as expectativas, tornarem-se reais.

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Publicado no Diário Político, do Diário da Borborema deste sábado, 25/12

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