ARTIGO: A PALAVRA E A AÇÃO


Numa eleição, o grande ponto favorável ao debate entre candidatos é que ele é a única oportunidade de um confrontamento de idéias e propostas que, ditas apenas por meio da propaganda, não deixam margem a questionamentos sobre aspectos fundamentais, como relevância e viabilidade.

Os projetos de governo apresentados nos guias eleitorais são mostrados de forma tão convicta que deixam no ar a impressão de que governar é fácil. Todo candidato diz conhecer o caminho das pedras para promover as mudanças que são necessárias, garantindo que mudará radicalmente a realidade de setores como saúde, segurança e educação. Mesmo assim, essa realidade pouco muda.

Quando, entretanto, aqueles que disputam mandatos debatem entre si, tudo o que falam, prometem e garantem é posto em xeque. E as respostas têm que ser imediatas, os argumentos expostos sem intervalos para elaboração, tudo isso sem o pronto socorro de assessores e marqueteiros. É o candidato, seu opositor e a câmera.

A TV Clube promoveu, na última quinta-feira, aquele que foi, até agora, o grande debate destas eleições, com os adversários Ricardo Coutinho (PSB) e José Maranhão (PMDB) falando de si e de seus planos de governo cara a cara, lado a lado. No fim, os dois lados cantavam vantagem, auto avaliando-se como grandes vencedores do embate.

Tudo bem, faz parte do jogo. Há quem pregue que estes debates devem limitar-se somente ao campo das propostas, sem troca de farpas entre os debatedores. De fato, o mínimo que se espera de quem pretende ocupar grandes cargos públicos é a moderação, o equilíbrio, a capacidade de enfrentar o contraditório. Baixarias são repudiáveis.

Mas, é também necessário que, observando os limites devidos, os candidatos confrontem não apenas os projetos uns dos outros, mas suas histórias, suas posições, suas práticas. Até porque, na escolha que tem de fazer, o eleitor deve observar atentamente não apenas aquilo que um candidato diz que vai fazer, mas também aquilo que ele já fez.

A origem

No debate, José Maranhão errou ao cutucar repetidamente seu antecessor (mesmo sem citar seu nome). Mas, quem viu que Roosevelt Vita e o deputado federal Manoel Júnior assessoravam o governador, entendeu o porquê do tiroteio contra Cássio.

Foco errado

É sabido que o ex-secretário Vita e o deputado reeleito Manoel Júnior demonstram achar fundamental não deixar passar qualquer chance de fustigar Cássio. Só que enquanto Maranhão critica o ex-governador, que não está na disputa, cede terreno ao seu verdadeiro adversário, Ricardo Coutinho – que ainda o classifica de briguento.

Ausência

Embora “lembrado”, o ex-governador Cássio Cunha Lima, do PSDB, não esteve acompanhando o aliado Ricardo Coutinho no evento da Clube. Cássio, que anda mais preocupado com a demora na apreciação do seu recurso no TSE, estava fora da Paraíba.

Por pouco

A assessoria do candidato Ricardo Coutinho o salvou de sair do debate deixando para os marqueteiros do PMDB munição que de certo seria explorada. É que Ricardo, ao falar do porto de Cabedelo, pareceu não ter a intenção de nele investir. Avisado pelos assessores, o socialista tratou de usar a primeira oportunidade para corrigir-se.

Ratificando

Para afastar o risco de imbróglios em torno do assunto, o portal de Coutinho publicava, ontem: “Ricardo vai modernizar Porto de Cabedelo e facilitar escoamento da produção”.

A falta que faz

Tem faltado a Maranhão essa mesma agilidade por parte de sua equipe. Um candidato sozinho não dá conta de manter um bom desempenho na mídia durante todo campanha.

Avaliação geral

O primeiro debate entre Maranhão e Coutinho teve grande audiência e atendeu às expectativas. Foi um bom encontro e, nestes casos, quem ganha sempre é a democracia.

Encontro marcado

Vale lembrar que, na próxima quinta-feira, dia 21, os candidatos José Maranhão e Ricardo Coutinho voltam a se encontrar para novo debate, desta vez na TV Borborema.
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Publicado no 'Diário Político', do Diário da Borborema de hoje

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