DECLARAÇÕES DESASTROSAS, DESCULPAS ESTAPAFÚRDIAS

O albergue instalado na região do bairro do Catolé, em Campina Grande, no ano passado, gerou inevitável polêmica desde o começo. Não poderia ser diferente. O pior, contudo, desde o primeiro instante, tem sido a postura de alguns secretários do Estado. Aliás, não apenas a postura, como também o palavratório.

Assis Costa, então secretário de Interiorização, ameaçou enquadrar aqueles que não desejavam a nova vizinhança na lei Afonso Arinos, que pune crime de discriminação racial.

Pior, no entanto, se saiu Roosevelt Vita, à época respondendo pela Secretaria de Cidadania e Administração Penitenciária (Secap) que, como todos lembram, chamou aqueles campinenses de analfabetos em termos de assuntos penitenciários.

Na lamentável ocasião, entretanto, Vita apresentou uma premissa que, passados cerca de oito meses, indica que ele mesmo, então secretário da Administração Penitenciária, era mais analfabeto que o povo do Catolé, no tocante à questão. É que o nobre jurista pintou a figura do albergado como um indivíduo em ressoalização, sem oferecer risco à sociedade. Faltou combinar com vários albergados que vêm dando trabalho e dor de cabeça à população.

Pois bem. Na semana passada, a Polícia Militar, cumprindo ordem da juíza das execuções penais Ailzia Fabiana, realizou uma operação pente fino no albergue. Os policiais foram recebidos à bala pelos albergados, que depois atearam fogo nos colchões, deixando imprestáveis as já sofridas instalações.

Entrevistado pela TV Paraíba, o atual secretário da Cidadania e Administração Penitenciária, Carlos Alberto Pinto Mangueira, saiu-se com mais uma declaração desastrosa. Segundo se infere das palavras de Mangueira, a culpa da rebelião foi da juíza, que ordenou o pente fino, e da polícia, que assustou os internos.

“Foi uma ordem inusitada e merecedora até de reparos. Tudo o que se fizer à noite em um presídio é suscetível de problemas. Não é adequado se dá uma ordem para que a polícia invada um presídio à noite, inclusive usando bombas. Causaram um tumulto, os presos ficaram assustados e reagiram”, disse o secretário.

Para Mangueira, a operação poderia ter sido realizada pela manhã, quando os albergados acordassem. Assim, o Estado precisa da anuência de apenados para acesso a dependências públicas?!

O secretário não lembrou que uma das garantias de eficiência de ações como a que foi determinada pela juíza é justamente o fator surpresa, que não seria o mesmo pela manhã. Também não comentou o fato de a polícia ter apreendido ali, dentro de uma instalação do Estado, drogas e armas.

Saiu pela tangente, numa declaração estapafúrdia, sem responder nada, sem apontar qualquer ação efetiva. Aliás, essa tem sido a tônica de várias secretarias do Governo Maranhão: jamais assumir compromissos efetivos, jogar a responsabilidade sempre em alguém.

A Cagepa tem problemas: culpa dos servidores. A segurança vai mal: culpa do governo passado. O presídio do Róger é um caldeirão: culpa da Polícia Militar, que retira presos das celas à noite para oitivas. O albergue do Catolé é uma bomba: culpa do povo, que é analfabeto. Os albergados recebem a PM à bala: culpa da juíza, que manda fazer inspeção, e da própria polícia, que atrapalha o descanso dos outros.

É deplorável um governo não assumir suas responsabilidades.

1 Comentários

Emmanuel Sousa disse…
Vale postar meu texto postado à época do caso "Analfabetos":
http://almacorsaria.blogspot.com/2009/08/analfabeto-eu.html

"Enquanto os brasileiros condenam a personificação indiana representada pelos atores globais, durante o horário nobre, em relação ao tratamento dispensado inter-castas, em uma sociedade repleta de costumes milenares propagados de geração para geração, nós, Campinenses somos, constantemente, subjugados pelos moradores da capital do nosso próprio Estado.

Na ‘soap opera’ da Rede Globo, é apresentada a naturalidade com que uma sociedade dividida em castas promove a discriminação entre os Brâmanes e os Dhalits, por exemplo.

A nível estadual, estamos cansados de ser maltratados pelos vizinhos pessoenses, inflados pelo ego e praticantes de um bairrismo ridículo e estúpido, como se não fôssemos todos paraibanos, igualmente discriminados à nível nacional, como nordestinos que somos.

Como se já não bastasse esse uníssono entorpecimento dos pessoenses tachando-nos de “matutos”, agora fomos agredidos pelo Secretário Estadual de (pasmem!) Cidadania e Justiça Roosevelt Vita que declarou, em entrevista à TV Paraíba, que os moradores de Campina Grande são “analfabetos”.

Em tom de ira e inconformismo, o Secretário respondeu ao protesto de alguns moradores do bairro do Catolé, em Campina Grande, por não concordarem com a instalação de galpões para abrigar presos albergados nas proximidades residenciais.

Além de termos emperrado em desenvolvimento nos últimos vinte anos, por sermos tratados como gado em um curral (eleitoral), agora, somos “ignorantes” aos olhos daqueles que deveriam prover o progresso dos nossos municípios na esfera estadual de governo.

Ante a minha indignação, é preciso, até, que aceitemos tamanho ciúme: a Paraíba só é citada à nível nacional, por conta de Campina Grande!

O simples fato de ser capital e cidade litorânea não promove João Pessoa ao Brasil em nada! O único atrativo turístico da capital é a ridícula prática de nudismo da praia de Tambaba e mais nada!

Enquanto que a Rainha da Borborema é a segunda maior cidade do interior do Nordeste, é pólo tecnológico nacional, está entre as 100 melhores cidades do Brasil para se trabalhar, é um dos cinco maiores PIB do interior do Nordeste, é um dos maiores exportadores de ‘softwares’ através das parcerias implementadas junto a Fundação Parque Tecnológico, além do TecOut Center desenvolvido com o objetivo de aproximar as empresas de tecnologias brasileiras das chinesas, propiciando uma interação entre o Brasil e a China, gerando empregos e fortalecendo o desenvolvimento local.

É unicamente em Campina Grande que a São Paulo Alpargatas produz as sandálias Havaianas, distribuídas para todo país e exportada para todo o mundo!

E nem preciso lembrar que exportamos cultura com O Maior São João do Mundo, que atrai turistas do Brasil inteiro, além da notoriedade de toda mídia nacional, através de um evento consolidado em mais de vinte edições do festejo.

Claro que ainda temos muito a crescer. Mas, esse progresso é gradativo e vem sendo conseguido à duras penas, com muito suor desse povo aguerrido, que fez e faz a História da nossa Campina, Grande por mérito próprio e pela grandeza dos habitantes que de forma impávida a titulou de Capital do Trabalho! "