ATÉ AGÊNCIA AQUAVIÁRIA FAZ PROPAGANDA DE DILMA. ÓRGÃO QUE DEVERIA SER ISENTO LANÇA LIVRO E PROMOVE MINISTRA

Texto do blog de Fernando Rodrigues (com imagem de Sérgio Lima/Folha)

A Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) acaba de publicar um luxuoso livro de 140 páginas sobre o seu setor. Uma única personalidade aparece, logo no início, prefaciando o trabalho: Dilma Rousseff, pré-candidata do PT a presidente da República.

Com capa dura, caixa de invólucro (“luva”, como se diz no jargão gráfico), papel especial (“couché”) de alta gramatura, o livro “Estradas d'água: As hidrovias do Brasil” traz fotos de hidrovias, dragagens e portos de todo país –nada que não se possa encontrar na web ou no site da própria Antaq. Foram impressos 10 mil exemplares. De acordo com estimativa feita pelo UOL em gráficas de Brasília, o custo da operação ficaria na faixa de R$ 225 mil –sem contar os gastos de envio da publicação para congressistas, governos estaduais, prefeituras de cidades portuárias, universidades e instituições com alguma relação com transporte aquaviário.

A Antaq não revela o custo oficial do livro. Indagada sobre a idealização do projeto e os valores gastos com organização, impressão, distribuição e evento de lançamento, a Secretaria de Comunicação do órgão disse que “ninguém, nem mesmo o diretor pode explicar sobre o livro”.

Mas a assessoria da Antaq prestou uma informação relevante: a impressão teria sido feita na China para baratear o processo. Ou seja, além de publicar algo de utilidade duvidosa e de fazer propaganda indireta da pré-candidata do PT a presidente, a Antaq também ajudou a promover a indústria gráfica chinesa em detrimento da nacional.

O livro “Estradas d'água: As hidrovias do Brasil” tem 30,5 cm de altura e 23,5 cm de largura. É daquelas publicações que ficam, em geral, dispostas em mesinhas de canto nas salas de recepção dos órgãos públicos em Brasília. Compartilham o espaço com revistas de celebridades. Não está claro o quanto esse livro ajudará na promoção do transporte aquaviário do país.

A Antaq é ligada ao Ministério dos Transportes. O livro corretamente não traz foto promocional do ministro da área. Também não há imagens do diretor-geral da agência, Fernando Fialho, nem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva –que aparece apenas de maneira oblíqua, em um quadro, atrás de Dilma Rousseff.

O repórter Edemilson Paraná, do UOL, procurou a Antaq para indagar a razão de Dilma Rousseff ser a única autoridade retratada no livro promocional da agência. Ninguém soube explicar. A publicação contou com patrocínio da Confederação Nacional dos Transportes (representante oficial do lobby das empresas do setor), do Grupo Wilson e Sons e das empresas brasileiras de navegação Aliança, Log-in, Bertolini, e Hermasa e da Transpetro.

No prefácio, após uma digressão sobre a importância e vantagens do transporte aquaviário, a pré-candidata a presidente oficial diz que o PAC “está investindo R$ 1,5 bilhão na construção de duas eclusas no complexo de Tucuruí, na dragagem e no derrocamento das hidrovias Paraná Paraguai, do São Francisco e do Tocantins, além da construção de 39 terminais fluviais na região amazônica”.

Criada em 2001, a Antaq deveria ser uma autarquia especial, com autonomia administrativa e funcional. Em resumo, deveria ser uma agência independente, sem influências políticas do governo de turno, pois é responsável pela regulamentação, controle tarifário, estudo e desenvolvimento do transporte hidroviário no Brasil.

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