GERALDO VANDRÉ: SÍMBOLO DA LUTA CONTRA A DITADURA COMPÔS MÚSICA PARA A FAB E REJEITA HOMENAGENS

O paraibano Geraldo Vandré é um sujeito excêntrico. Estranho mesmo. Talvez doido. Autor de "Para não dizer que não falei de flores" (Caminhando e cantando e seguindo a canção...) uma música que é tida como um autêntico hino contra a ditadura militar no Brasil, teve seu nome para sempre vinculado à luta contra a repressão. Até dizem que ele foi preso, torturado e castrado pelos militares.

Conversa fiada, conforme ele mesmo garante em uma de suas raras entrevistas, concedida a Ricardo Anísio, do portal Ritmo Melodia, em 2004, ao ser perguntado se sofreu tortura: "Nunca! Nem sequer fui exilado, porque escapei do país antes que me prendessem e me exilassem. Saí do Brasil sem que me encostassem um dedo sequer, embora soubesse que era considerado de alta periculosidade pelo SNI (Serviço Nacional de Informação)".

Mas, quem pensa que Vandré é inimigo dos militares, engana-se redondamente. Ele até compôs Fabiana, uma música em homenagem à Força Aérea Brasileira (FAB). Ele explica sua relação com os militares:

"Quando voltei do exílio, no final de década de setenta, meus companheiros me receberam com decepção, porque eu estava vivinho da silva, e eles me queriam mártir e morto. Seria para eles mais uma bandeira. E eu voltei doente e meio perdido em meu país, quando justamente os militares me acolheram e me deram tratamento médico, e me alojaram. Essa é uma relação de seres humanos e não de instituições. Outra coisa, tem que se acabar com essa idéia de que dentro dos quartéis todo mundo será sempre de direita. As coisas mudaram, e a tendência dos jovens oficiais hoje é mais de esquerda, ou de centro, na pior hipótese. Não foram as Forças Armadas as responsáveis pelos anos de ditadura, mas sim os homens que estavam à frente delas naquele momento".

Pela avaliação sóbria dos fatos, logo se vê que ele não tem nada de louco. Outra evidência disso é que Geraldo Vandré não aceita ser incluído entre os beneficiados com a Lei de Anistia: "Quiseram me anistiar e eu disse não! Anistia é perdão e eu não tinha do que ser perdoado, veja que coisa louca. Então voltei a morar no Brasil, mas sem a anistia, eu sou um clandestino em meu próprio país”, declarou.

Por conta disso, ficou numa situação de ilegalidade, nem ao menos podendo comercializar suas obras: "Porque se eu estou na ilegalidade, minha obra também é ilegal no país. A engrenagem é toda cheia de absurdos, de contradições. Mas não compactuo com isso, e a aí me consideram o louco, por não aderir a essa onda toda de teorias furadas e nenhuma prática com fundamentação jurídica", explica.

Um outro forte sinal de sanidade foi sua resposta quando perguntado se lia livros de auto-ajuda, particularmente Paulo Coelho. "Se é de auto-ajuda é uma coisa que vem de nós e nós é que temos de criar as fórmulas para nos ajudarmos certo?! Com relação a este senhor, o Paulo Coelho, acho que tenho mais com que me ocupar do que ficar entrando nas suas viagens loucas", bateu.

Doido não é, mas é excêntrico. Deu entrevista ao portal Clique Music (estrangeirismo ridículo o nome do site, por sinal) e parecia indisposto a conversar com o repórter. Ao ser questionado se ouvia Chico César, eis as respostas:

CliqueMusic – Já ouviu Chico César?
Geraldo Vandré – Nunca ouvi falar. Da onde ele é?

CliqueMusic – Da sua terra, a Paraíba.
Geraldo Vandré – Não sei quem é. Vivo em outro mundo.

Além de "Para não dizer que não falei de flores" e tantas outras canções, Geraldo é autor de "Arueira" (Madeira de dar em doido / Vai descer até quebrar / É a volta do cipó de arueira / No lombo de quem mandou dar), e da belíssima Disparada (Prepare o seu coração / Prás coisas que eu vou contar / Eu venho lá do sertão / Eu venho lá do sertão), parceria com Theo de Barros, que ganhou sua melhor interpretação na voz de Jair Rodrigues.

Vandré nunca mais dedicou-se à musica profissionalmente. Passou a viver do direito, na cidade de São Paulo e se relacionar com a música como estudante e compositor de obras clássicas. "Posso até gravar, mas um disco com minhas peças para piano. Não canto mais e nem pretendo mais fazer shows", disse a Ricardo Anísio. Para com a Paraíba, revela tristeza por uma questão pessoal: "Fiquei triste, digamos assim, quando minha tia vendeu a nossa casa, a casa onde eu nasci e me criei (na Av. Almirante Barroso, Parque Solon de Lucena) e onde eu pretendia fundar a Capitania de Van-Mar, uma espécie de fundação onde trataríamos de coisas da cultura e da ecologia".

Foge das homenagens, rejeita rótulos, dispensa honrarias e reconhecimentos. Tudo bem. Quem escreveu "Disparada", "Para não dizer que não falei de flores" e "Arueira" já fez muito.

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2 Comentários

Olá, muito bem lembrado o nosso grande Geraldo Vandré, estamos iniciando uma produção para resgatar este compositor, www.alquimidesdaera.palcomp3.com.br
Estamos realizando o show PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE FLORES com a obra de Geraldo Vandré e Alquimides Daera com musicas em parceria e ineditas, em diversas regiões do Brasil visando à disseminação e a valorização da sua música, portanto, a utilização desta obra toma-se indispensável ao ser humano quanto aos seus conteúdos e conceitos de uma forma lúdica permitindo a fantasia, de acordo com o pensamento do compositor, no entanto devido toda essa importância a necessidade de trabalhar com a utilização da sua música.Nosso projeto é criar em todas as áreas de atuações, produções musicais que primem pelo incentivo ao prazer de pensar e ao de descobrir-se, considerando-os alimentos indispensáveis à sobrevivência da fantasia, além de atuar como verdadeiro antídoto contra a chamada "Cultura de Massa" voltado para o aumento da capacidade crítica da população em geral, sem nenhum preconceito de ordem religiosa, étnica ou social, e para a elevação do sentimento de auto-estima do artista, ou seja, de pertencimento à cidade, ao bairro e ao grupo social.

Repertorio do Show - http://palcomp3.com/alquimidesdaera/