A DESGRAÇA NA TELA DE PORTAIS SERTANEJOS

O sensacionalismo, a exploração da desgraça alheia, o mundo cão na mídia, nada disso é novo, nem muito menos algo que um dia tenha fim. Existe a exploração da tragédia humana pelo mesmo motivo, por exemplo, da existência das drogas: ambos são viáveis porque há consumidores ávidos por mais. Não é de se espantar que jornalecos pingando sangue sempre tenham sido sinônimos de boas vendas Brasil afora.

Com o advento e propagação da internet e das novas tecnologias, como celulares com câmeras nas mãos de todo mundo, tais práticas adquiriram maior propulsão. Muitos são os sites especializados em histórias, imagens e até vídeos onde a barbárie é profundamente explorada. São cenas de homicídios, atropelamentos, gente crivada de bala, degolada, esfolada, enforcada, num verdadeiro espetáculo de sangue e desgraça, excitando loucamente a mais aguda morbidez humana.

Pois bem. Nestas terras paraibanas, onde pipocam todos os dias blogs e sites, muitos supostamente noticiosos, temos acompanhado nos últimos meses a absurda exploração da violência crescente em cidades sertanejas, destacadamente em Patos, por portais da região. Em pelo menos dois destes sites, ditos de notícias, é possível ao internauta ver detalhes de cenas macabras de mortes violentas, sob o cínico argumento de que ali é mostrada apenas a verdade.

Como se a gente, para tomar ciência da verdade e manifestar nossa revolta, precisasse ver, em boa resolução, o sangue escorrer do buraco da bala em um corpo sem vida. A mentira, velha, surrada e cretina, encobre mal o mero desejo de quem explora esse tipo de situação de tirar benefício da tragédia alheia. Publicam as famigeradas imagens porque, infelizmente, elas fazem com que seus sites, carentes de notícias, atualizações e a mínima qualidade jornalística, recebam maior número de acessos, o que, por conseguinte, faz que sejam mais vendáveis. Dá para trocar o anunciante de R$ 40 por um de R$ 70.

É a lógica esdrúxula e lastimável de um mercantilismo barato e sem escrúpulos, que precisa ser combatido, porque é imoral. Expor a miséria de forma tão extravagante, explorando corpos inertes cujas histórias remontam ao desvario de uma sociedade imersa numa onda sem controle de violência, no máximo servirá para tornar esse quadro banal, normal. Além de redundar em parcos benefícios pessoais para alguns homens-urubus que, com uma câmera na mão e um vazio na cabeça, só podem conseguir alguma coisa assim, descendo aos mais baixos degraus da indignidade humana.

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