ARTIGO: COERÊNCIA COM A INCOERÊNCIA

Disse eu, no último artigo, que julgava o comportamento da Câmara de Vereadores de Campina Grande nestes últimos dias, particularmente no tocante ao caso dos vetos do prefeito Veneziano Vital do Rêgo, coerente com a incoerência de nosso legislativo municipal. Parece paradoxo, e é mesmo. Não a afirmação, mas sim a postura de parte daqueles que atualmente compõem a Casa de Félix Araújo.

Vários vereadores apresentam mandatos apagados, de pouco brilho, sendo incapazes de propor projetos importantes, que realmente interessem à Cidade, tendo, por isso mesmo, parca relevância política, ainda que no próprio cenário municipal. Prova disso é que, quando se lança perspectivas sobre as eleições de 2012, raríssimos são os nomes de membros da Câmara Municipal apontados como eventuais candidatos de seus grupos para a disputa da Prefeitura.

Há muito desinteresse em estudar, conhecer a fundo a realidade do Município, aplicar-se à pesquisa de temas fundamentais ao desenvolvimento econômico e social da Cidade. Assim, como ninguém nasce sabendo, fica difícil um desempenho que vá além do que temos visto.

Não se admite o desempenho de um mandato onde a preocupação maior esteja no atendimento clientelista de restritas zonas, como forma de assegurar reeleições futuras. Isso é o mandato pelo mandato, mas, infelizmente, é também algo longe de ser raro.

Não dá para entender um exercício do cargo sem o comprometimento de fato com os debates, problemas e necessidades do cotidiano municipal. Não é aceitável que um parlamentar vá ao plenário apenas para seguir um roteiro de votar contra ou a favor de certa matéria, sem a devida consideração dos porquês.

Tal comportamento redunda em cenas patéticas, como a que temos assistido algumas vezes na Casa de Félix Araújo, quando alguns vereadores limitam-se a ser contra tudo, porque são oposição, ou favoráveis a tudo, porque são situação. Ou, como o ocorrido na semana passada, quando parte da bancada de oposição simplesmente abriu mão de analisar mais acuradamente os vetos do executivo a emendas ao orçamento – emendas que eles mesmos haviam proposto e aprovado. Ou seja, vai-se de um extremo a outro, sem equilíbrio, sem sobriedade, sem critérios.

Aliados do prefeito aplaudiram o ocorrido, como evidência de bom senso da Câmara. Não o foi. Pode ter sido qualquer coisa, menos um gesto de boa vontade para com Veneziano, um sinal de trégua no conflito gato e rato entre Executivo e Legislativo. De qualquer forma, não importando quais tenham sido os motivos, o que aconteceu no caso dos vetos implica, na verdade, na manutenção de uma postura coerente com a incoerência que marca a posição de alguns membros do legislativo municipal.

Oxalá queira o eleitor abandonar seu comportamento, também coerente com sua própria incoerência – mal lembrando o nome do parlamentar a quem deu o voto, ou votando por motivo banal – para, assim, dar uma resposta justa e devida a si mesmo e à classe política como um todo. Afinal, até quando a incoerência – de ambos os lados – vai reinar?

0 Comentários