ISSO É JORNALISMO? PORTAIS PARAIBANOS SE ESPECIALIZAM EM NOTICISMO MEDÍOCRE


Todo mundo sabe que a notícia no mundo moderno passa pelo crivo da velocidade e imediatismo, dois aspectos que nem sempre combinam com o bom Jornalismo. Para que haja tal combinação, são fatores indispensáveis – dentre outros – a qualidade e, principalmente, a responsabilidade. E é exatamente aí, nesse binômio, que o bicho pega.

A ansiedade de ‘informar’, o sensacionalismo exacerbado, a falta de ética, a irresponsabilidade, ausência de tino jornalístico e, muitas vezes, burrice e parco conhecimento dos princípios mais elementares da língua portuguesa, somados a tantos outros aspectos, trazem como resultado um noticismo onde se privilegia a quantidade em detrimento de qualquer meta de qualidade.

Vejamos alguns exemplos:

Criança de 4 meses vítima de acidente na Serra de Teixeira será transferida para Campina

(...)

Segundo informações do repórter Higo de Figueiredo, a criança estava lúcida, porém apresentava um ferimento na cabeça, provocado por uma pancada no acidente.

O bebê é filha da senhora vítima fatal no acidente.

O pai da criança se encontrava no Hospital Infantil Noaldo Leite acompanhando o filho, porém estava bastante abatido, inclusive chorando muito.

Fonte: Patos Online

1) O bebê de quatro meses estava lúcido? Bebê de quatro meses lúcido? O repórter (terá diploma?), com certeza não estava lúcido!

2) O bebê é filha? Erro de concordância? E, à frente, fala-se em filho. Enfim, mesmo aos quatro meses ainda não se sabe se é menino ou menina?

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Criança evangélica suícida-se por meio de enforcamento em São José da Lagoa Tapada

(...)

Ao retornar, a mãe da vítima encontrou seu filho de 12 anos pendurado com uma corda no pescoço. Segundo os familiares da vítima, a corda era usada para as crianças brincarem. A adolescente foi retirada pelos familiares que em seguida a conduziram para o HRS, onde deu entrada já sem vida.

Não se sabe ainda se ocorreu um homicídio, suicídio ou acidente, ficando a cargo da PM investigar o caso.

1) Que acrescenta à informação dizer que a criança era evangélica?
2) Na manchete afirma-se que houve suicídio (veja-se como está escrito ‘suicida-se’), mas, no parágrafo final, informa-se que não se sabe o que ocorreu;
3) No início, fala-se em filho. Mais à frente, o gênero muda para ‘a adolescente’. Pense numa dificuldade desse povo de diferenciar macho e fêmea!
4) O tal repórter incumbiu a Polícia Militar de investigar o caso. Mas não cabe à Polícia Civil o trabalho de investigar fatos consumados? Ou a PM é a Polícia Judiciária agora?

Fonte: Diário do Sertão

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Há ainda portais que parecem estar na moda do Twitter, site onde o internauta posta textos de até 144 caracteres.

Vejam esses exemplos do Paraíba Online:

Clonagem de cartão

Cabo da PM mata esposa

Traficante é preso

E vejam que as notícias acima são reprodução da TV. Uma rápida observação no Paraíba Online vai mostrar, ainda, que, além das ‘noticinhas’, o portal alimenta-se de muitos, muitoooosss releases (textos enviados por assessores de imprensa). Isso para não falar do descuido na diagramação das matérias.

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Os casos aqui elencados são apenas pequenos exemplos em um universo bastante amplo. Quem costuma acessar com freqüência nossos portais de notícia já deve ter se acostumado, com certeza, a deparar-se com coisas do gênero. Fato é, entretanto, que, apesar de erros e desencontros serem inevitáveis, o esforço por fazer o melhor tem que ser contínuo no Jornalismo. E isso não é o que temos encontrado ultimamente..

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