Desaforo

ENSINANDO PAI NOSSO A VIGÁRIO


A matéria era sobre uma ação do Ministério Público Federal contra os Correios e o Bradesco referente ao serviço Banco Postal, onde as pessoas pagam títulos e movimentam contas do Bradesco. Segundo o MPF, no Estado esse serviço não tem a devida segurança, embora movimente muito dinheiro, e por isso, o órgão judicial quer que as duas entidades providenciem segurança semelhante ao que encontramos nas agências bancárias.

Certo. Peguei as informações do Ministério Público, falei com a direção dos Correios, para pegar sua versão, e tentei contato com o Bradesco. A tarde toda e nada. Já após fechado o expediente para o público, consigo falar por telefone com o banco, e os funcionários dizem que quem pode responder é o responsável por certa função na empresa, e ele só estará lá por volta das 17. Só consegui depois das 18, para ouvir que isso ficava a cargo da assessoria jurídica do banco, que fica na sede, em Recife. Tudo bem até aí. Mas, ele pede para que eu espere até o dia seguinte para pegar a versão da assessoria. Respondi que era impossível, que tinha vinte minutos pra terminar a matéria, mas que diria o que ele falou, ou seja, que à assessoria jurídica caberia responder sobre o caso. O que ele responde?
- Não autorizo você a dizer isso!!!

Eu nem sei dizer pra vocês o ódio que me deu, e respondi:

- Olha, não estou lhe pedindo autorização pra nada e nem preciso. Perguntei, você me respondeu e tenho que explicar às pessoas que lhe ouvi.

Já me preparava pra briga, mas ele amenizou, disse que receava que pensassem que ele não sabia de nada (?), mas que eu tinha que ter ligado para a assessoria jurídica, que logicamente era quem é habilitado a responder pelo tema. Novamente senti ódio:

- Senhor Fulano, eu não tenho que saber que sua agência tem sede em Recife e que não dispõe de assessoria jurídica aqui. Ligo para o lugar a que se refere o processo, crendo que as pessoas que me atenderem indicarão a pessoa responsável para comentar. E aí me disseram que era o senhor, talvez para se livrar do pepino.

Ele riu amarelo (pelo menos o som foi de sorriso amarelo) e ainda quis considerar que “era melhor eu dizer que tentei falar com o banco e não consegui”. Quis sentir ódio de uma vez, mas preferi encerrar o papo enquanto ainda me restava alguma paciência e educação, e botei lá exatamente como disse a ele que faria.

Esse caso ilustra outros que vivi desde o tempo de estagiário e que todo jornalista vive. Sempre tem gente querendo nos ensinar como devemos fazer nosso serviço. Sempre tem gente pronto a nos chamar de sensacionalistas, criticar a imprensa. Sempre tem um malinha soltando um “escreva assim”. E tem aqueles, como o representante de uma certa coligação da cidade, atendem com má vontade e sarcasmo – e coisa que tenho ódio é sarcasmo. Respondem nesse tom, como se a gente fosse imbecil.

Enfim, faz parte do nosso dia-a-dia, por isso, até tolero tudo que é preciso tolerar, mas, chega um ponto que, se preciso for, mando o camarada ir se lascar, com pai, mãe e madrinha de crisma.

2 Comentários

Taty Valéria disse…
São os ossos do ofício!!!!!
Todo dia temos histórias boas aqui em casa pra contar.

Mas é assim mesmo Nildo, depois piora.

Grande beijo!
Givanildo Santos disse…
Já pensou se você fosse Vigário?

Rapaz, lendo o texto imaginei a cena.

Logo pra cima do gordinho!

É isso aí, camarada. Mantenha-se.

Quando tenho acesso ao JP (não o de Várzea)procuro logo as matérias assinada por ti.