Conto

(Pra vocês, um continho ainda inédito, embora antigo e, felizmente, meramente fictício, hein? Graças a Deus, sei que posso alcançar minha Lua)


O SONHADOR E A LUA
(Parábola de um amor inatingível)


Era uma noite de maio. Aliás, uma escura noite de maio. Sentado ao pé de um eucalipto, certo Sonhador erguia os olhos aos céus que, tomados por densas nuvens negras, não permitiam vislumbrar ao menos uma estrela, cobrindo a Terra e os corações dos homens com uma angustiante penumbra.

Submerso em seus insondáveis pensamentos, o Sonhador adormeceu. Veio despertar algum tempo depois, ante aquela sensação de claridade que, ainda com os olhos cerrados, nos acorda pelas manhãs. Todavia, não era manhã. Inexplicavelmente, como de resto são todas as coisas grandes da vida, as nuvens haviam dispersado, de modo que um infinito de estrelas e uma esplêndida Lua cheia iluminaram a noite.

O Sonhador correu os olhos pelos céus até fixá-los na Lua. Na verdade, a princípio, teve dificuldades em fixá-la, tamanho era seu resplendor. Quando conseguiu, um sentimento estranho tomou-lhe o peito: de alguma forma, achou-se apaixonado por aquela Lua prateada que expulsara as trevas de sua noite.

Por instantes, esteve absorto em admirá-la, elogiá-la e, sendo o Sonhador, traçar mil planos de feliz e eterno amor. Já sem poder conter-se, de um salto se pôs de pé, a fim de abraçar e beijar sua amada.

Só então percebeu o quanto estavam distantes, o quanto aquela Lua que amava era maior que ele, e que o simples fato de banhá-lo com seu esplendor não significava sequer que ela o enxergasse. Agora, espessas nuvens de tristeza, dor e desesperança lançaram novamente as trevas sobre o coração do Sonhador, que apenas pode cair, prostrado, silencioso, mal contendo as lágrimas, exceto uma, que correu-lhe o rosto triste e perdeu-se na terra.

Desde aquela noite, o Sonhador passou a chamar-se Tristonho.

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Nessa história, o Sonhador sou eu, a noite escura é minha vida, e a Lua é você. Entretanto, você está ainda mais distante de mim que a Lua do Sonhador.

FIM

1 Comentários

Anônimo disse…
Olá Lenildo,
a respeito dos contos, gosto muito de escrevê-los (embora há tempos não tenha feito isso), lê-los.. eles me agradam de mutas maneiras.
Continue exercitando sua escrita através dessa excelente escola que é o conto, a literatura enfim. Meus preferdos no ramo são os Rubens: Braga e Fonseca.

Tudo de bom,
Isolda.