UM SONHO IMPRESSO NO PAPEL

Foi ontem à tarde. Saí do trabalho para buscá-lo. Inesperadamente, havia ansiedade, de modo que, apesar da reitoria da UEPB ser pertinho dali, lamentei não ter ido na minha velha motoca pra chegar mais rápido. Por que estava ansioso, se aquilo era a conseqüência natural de tanto esforço e, além disso, era apenas um pedaço de papel?

Lá, a funcionária entregou-me esse pedacinho de papel com um simpático sorriso de “parabéns”. Sorri também. “Assina agora?”, perguntou. “Não, depois”, respondi. As mãos, já trêmulas por natureza, agora haviam perdido a capacidade de assinar bem o que quer que fosse, e não queria marcar o papel com uma garrancheira mais ininteligível que o habitual. Agradeci mais uma vez, e saí dali com meu diploma, agora oficialmente um bacharel em Comunicação Social, um jornalista.
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Na volta, refletia sobre aquela surpreendente emoção, e entendi o porquê. Aquele papel que me dizia jornalista era, acima de tudo, o atestado de que tudo valeu a pena, toda a luta, toda a insistência, as noites perdidas com a cara nos livros... Era, ainda, a prova de que, quando queremos de verdade, mudamos nossa vida, alteramos aquilo que parecia ser nosso destino certo. Esse agora jornalista, foi o menino raquítico, morador da favela, criado sem pai, com necessidades, fome e humilhação, o que, para muitos, era a certeza inequívoca de fracasso e condenação ao degredo social.

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As palavras impressas no diploma pareciam embaralhar-se diante dos meus olhos e, ao invés do formal “concedo a Lenildo da Silva Ferreira o título de bacharel...” parecia anunciar: “Você conseguiu, menino! Você disse que ia chegar até aqui!”
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Reli para ver se era meu nome mesmo ali, e pareceu-me ouvir a voz da professora Fátima, tantos anos atrás, a chamá-lo em voz alta. Vi o guri magricela que, ante o chamado, timidamente entrara pela primeira vez em uma sala de aula, no Sesi. Lembrei de tudo, momentos felizes e amargos, todos eles importantes para mim, todos eles parte de mim, orgulhosamente componentes de minha história.

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Agradeci silenciosamente a muitos. Minha mãe, amigos e, acima de tudo, ao Senhor de tanta Graça e misericórdia. Sinceramente, agradeci também àqueles que não creram, aqueles que me pisaram, aqueles que tinham certeza do fracasso, porque frustrá-los era a reserva de força nos momentos de desânimo. Ninguém precisa ser amanhã aquilo que é hoje, ninguém é condenado invariavelmente à miséria, ninguém precisa sucumbir ao meio.
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É apenas um pedaço de papel, e nunca será mais que isso. Mas nele está impresso uma história, uma luta e, sobretudo, um sonho.

10 Comentários

Anônimo disse…
Realmente, ser jornalista, escritor, foram dons que Deus lhe deu de presente no ato da sua criação. Confesso que me emocionei enquanto lia esse texto, principalmente, quando cheguei neste parte: "Esse agora jornalista, foi o menino raquítico, morador da favela, criado sem pai, com necessidades, fome e humilhação, o que, para muitos, era a certeza inequívoca de fracasso e condenação ao degredo social".
Nildo, tenha certeza de que, realmente, tudo valeu a pena. E agora você só está recebendo aquilo que Deus prometeu para você desde o momento que você chegou ao mundo.
Amigo, é sério, tenho uma grande admiração por você. E agradeço a Deus por ter me dado a oportunidade de lhe conhecer e conviver com você. Amo tu, gordo safado! Sílvia Jerlândia
Anônimo disse…
parabens nildo =*
seu blog ta muito bonitinho... ^^
Taty Valéria disse…
Eita!!!
Essa notícia é boa pra mim também!
Meus parabéns amigo!
Léo Alves disse…
Grande Nildo tive o prazer de dividir com você durante um ano um pouco dessa sua luta. Talvez muitos (até mesmo a faculdade) tenham dito que você não conseguiria eu nunca duvidei. Aliás digo que esse pedaço de papel é apenas o começo. Você vai ainda mais longe. E quando tiver lá na frente nunca esqueça de onde veio, pois isso manterá sua humildade. Agradeço por ter dividido algumas noites do curso, onde pude aprender e ensinar um pouco.
Abs e boa sorte
Boy, você é, como eu já disse, aquele tipo "singularíssimo" de pessoa que se daria bem em qualquer ramo, desde que quisesse. Mas, que vc nasceu pro jornalismo, nasceu. Parabéns pelo depRoma!
Givanildo Santos disse…
Quem te conheceu já com as características que tu tens hoje, física e intelectual, jamais diria que tu foste humilhado, desenganado e muito menos raquítico.
Por menor que seja a convivência entre pessoas percebe-se de cara o seu caráter.
Como agregado que fui dessa turma me orgulho de ter conhecido e convivido com pessoas igual a você.

Me orgulho e digo: Fui colega desse jornalista.

Teu sangue é contaminado por jornalismo.
Anônimo disse…
Deus dá o frio conforme o cobertor...
cuide da aventura de sua vida agora, a minha última começou aos 40!
Um grande abraço de felicidade
Águeda
Gilberto Silva disse…
Parabéns sr Bacharel!!!!!!!!!!!!!
Lenildo Ferreira disse…
Landa,
Suas palavras são tocantes e só posso dizer que respeito, gosto de você demais e sinto muitas saudades da nossa convivência na faculdade.

Clarinha,
O blog é quase tão bonito quanto o dono. Quase, porque teria que saber mexer muito bem com HTML.

Taty,
Obrigado e corra pra buscar o seu.

Léo,
Você é digno, rapaz, da alegria que sentiamos em participar das suas aulas. Cara gente boa! Eu agradeço demais por aquele ano que pude partilhar da sua companhia e aprender contigo.

Márcio,
Você é uma potência intelectual.

Giva,
Sou teu fã, bicho... Queria que a gente fizesse um projeto que desse certo :) pra podermos trabalhar em parceria... Quem sabe.

Águeda,
Você é minha chefa... nem sabia que você já passou dos 35 :D

Gilberto,
Obrigado ao senhor, caba bom!
Anônimo disse…
Cafuçu Lenildo parabéns!
Sei bem o significado de cada palavra sua nesse texto, nossa história de vida tem muitas semelhanças.
Esse papel representa sem sombra de dúvidas uma vitória conseguida com lágrimas e muito esforço.
Aline Durães