Artigo

ESSES CRÁPULAS JORNALISTAS
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Venho, há certo tempo, questionando-me se realmente vale a pena ser um jornalista. Nunca tive ilusões fantásticas sobre a categoria ou a profissão. Não entrei nisso por dinheiro, pois pra esse fim teria feito Medicina ou Direito, tampouco por fama, pois para tanto poderia tentar carreira de músico ou ator, talvez malhar muito e me inscrever no Big Brother. Também não foi por uma ideal utópico, inalcançável, super altruísta. O que me moveu ao Jornalismo foi, acima de tudo, a inequívoca vocação: desde pequeno senti que era isso que gostaria de fazer da minha vida, profissionalmente.
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Seja por essa vocação, seja pela minha própria história de vida, entretanto, acalentei ideais realizáveis, mas, hoje, acho que, se conhecia a realidade da profissão, sem sonhos dourados, desconhecia ou, mais provavelmente, subestimei a enorme debilidade de caráter dos jornalistas. Sempre notei que o cinema, freqüentemente, pintava o jornalista com um estereótipo meio crápula – se é que é possível ser meio crápula. Na ficção, seríamos figuras egocêntricas, ansiosas pelo furo a qualquer preço, de parcos escrúpulos para atingir tais finalidades, narcisistas e pouco confiáveis. Vivendo a realidade, descobri que esta ficção, num panorama genérico, estava muito mais para uma obra baseada em fatos reais, o velho caso da arte imitando a vida, ou melhor, reproduzindo a vida.
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E, na realidade em que me vejo inserido, julgo que, além destas qualidades que o cinema já percebeu, podia-se acrescentar, ainda, a aguda covardia, a frívola venalidade, pouca competência, conformismo e, ainda, uma ridícula síndrome de grandeza na mediocridade, que faz com que nossos colegas jornalistas possam se achar o máximo, por algum destaque dentro de uma conjuntura nivelada por baixo. Bem por baixo.
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Depois que lancei o blog Jornalismo Paraibano, e mais precisamente após as entrevistas de Polion e Rômulo, não tive como deixar de sentir o distanciamento de muita gente, afinal, “grandes” nomes do nosso meio haviam se ofendido com o teor das entrevistas, e provavelmente me atribuído algum interesse particular em denegrir a imagem da empresa citada nas matérias. Quanta insensatez da minha parte, não??? Estando ainda na faculdade, buscando um espaço no mercado, adquirir alguma rusga com essa gente!!!
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Ora, por vezes elaborei textos diretos, a fim de informar que mandava às favas ou, se fosse o caso, a lugar muito pior, quem achasse que eu deveria deixar de publicar qualquer material por receio de que uma porta se fechasse amanhã. E se AINDA não pus a público o teor de tais escritos, é porque pura e simplesmente nunca tive a confirmação de que seria verdade aquilo que ouvi dizer que o novo editor da TV Paraíba teria falado – que eu deveria ser algum “laranja” de Rômulo, ou coisa parecida. Portanto, sem provas, não há Jornalismo, e mantenho, assim, o mesmo trato que sempre tive, e a mesma opinião respeitosa sobre a pessoa deste colega, o Siqueira – que, por sinal, vem fazendo um bom trabalho, tanto quanto é possível.
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Mas, àqueles que têm vaticinado o insucesso desse jornalista em formação, venho a dizer que não ando disposto a me deformar por influência de sujeitos de ânimo dobre, quais sois vós. Que posso fazer se, formado, levar meu currículo à TV Paraíba (hei de levar) e, por esse equívoco absurdo, ele for parar na lixeira do banheiro, a não ser tirar mais xérox, e procurar outras empresas? Se uma porta se fechar aqui, ainda há outras, nessas terras paraibanas. Se a própria Paraíba se fechar, restam ainda mais 25 estados, e o sempre fervente Distrito Federal. Sem levar em conta que ainda posso ir para o Iraque ou o Afeganistão (sempre gostei do Afeganistão), e tentar ser correspondente de algum jornalzinho de beira-de-esquina tupiniquim. Mas, nobres amigos, se todos esses recursos falhar, posso ainda ser balconista, vendedor, serviços gerais, cobrador, faxineiro, garçon, servente de pedreiro... uma infinidade de tarefas. Todavia, se a manutenção dos infortúnios levar-me, enfim, à mendicância, aí, arrumo um mimeógrafo, fundo o Correio do Esmoler, e volto a ser um ativo jornalista!
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É assim. O que já passei nessa vida, a miséria em que cresci, tem cara feia, é triste, dolorida, mas nem sempre mata, não a temo tanto quanto à possibilidade de ser mais um covarde mudo e não poder pôr tranqüilo a cabeça no travesseiro, com a consciência livre. Livre aliás, é quem não tem nada a perder, e não teme perder aquilo que nunca teve, se tal conquista precisar transformá-lo num autômato, troca-letras esquizofrênico, mais um crápula. Posso falar, posso condescender, aceitar o que não gosto, engolir alguns sapos, posso calar, mas só aceito ser regido por minhas próprias decisões. Não estou à venda.
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Portanto, prezados pares, não vos preocupeis tanto comigo. É preferível que poupeis esse tempo, em ponderar modos de manter vosso elevado estado, como a busca por novos meios de agradar aos chefes – se tendes um, – moderna carga de discursos e desculpas confortantes, criativos alônimos, e mecanismos afins, que tão bem conheceis. Quanto a mim, ficai descansados, nasci nu e estou vestido, passei fome que me desnutriu e hoje tenho que fazer regimes. Não preciso emudecer, posso suportar tudo isso de novo, se for preciso. Mas, garanto, da sarjeta ainda hei de aplaudir vossa magnificência – embora entre ânsias de vômito.
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LeNildo Ferreira

2 Comentários

Léo Alves disse…
Nildo, os que falam talvez sejam aqueles que não tem coragem de abrir a boca. Preferem o silêncio para não se arriscar. E quem não tem coragem de se arriscar não tem coragem de viver. Não vos preocupeis com o que dizem ou as pedras que são atiradas, pois se acontece é porque a árvore dá frutas. E como já me disseram uma vez eu te digo: "com as pedras que te atiram construirás teu castelo". Siga em frente. Acredite em você. E não tenha dúvida que muitas portas se abrirão, pois nada consegue segurar a força de vontade aliada ao trabalho e ao talento. Abs
Gilberto Silva disse…
Jornalismo só é feito com provas, enquanto ficam no anonimato, apanham sem mostrar a cara, mas apanham!!!