O ERRO DE CABRINI

Desde que chegou à Bandeirantes, o jornalista Roberto Cabrini se propôs a fazer um jornal diferente dos padrões usuais da televisão brasileira – que inspira-se no modelo estadunidense. Ao invés de muitas notícias, o Jornal da Noite traz matérias aprofundadas, sempre descritivas, buscando o que está além do mote meramente factual do mais simples tema. Assim, quem assiste o telejornal de Cabrini pode não receber a mesma quantidade de informações dispersas em vários assuntos que os telespectadores dos outros telejornais, mas poderá ter informações aprofundadas sobre os assuntos expostos. É o que o jornalista chama de “um jeito diferente de fazer televisão”. Como em qualquer jornal, tem dia que dar certo, tem dia que não.
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Entretanto, na conturbada semana passada, provavelmente na ânsia pelo furo – sanha de qualquer jornalista –, Cabrini acabou por cometer erros arcaicos, infantis mesmo, que acabarão por macular toda a sua carreira. Na terça-feira passada, ele apresentou uma matéria onde supostamente entrevistava, via celular, Marcos Camacho, vulgo Marcola, o sujeito que é apontado como líder do famigerado PCC (Primeiro Comando da Capital). No outro dia, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo publicou nota desqualificando a tal entrevista, que seria uma grande farsa. Até o governador paulista – com aquelas horríveis sobrancelhas de taturana – se manifestou, afirmando que o jornalista não poderia, sob nenhuma hipótese, ter conversado com Marcola, porque o bandido está em total isolamento no presídio de Presidente Bernardes. Roberto Cabrini, notoriamente desconfortável, limitou-se a dizer que a entrevista foi acertada com membros do PCC, que o puseram em contato com o chefão da bandalheira.
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Pareceu-me que só então o colega famoso atinou para a bobagem que cometera. Mas, sendo ele alguém com toda a história que tem, custo a acreditar. O fato é que, seja como for, aquela entrevista dificilmente teria acontecido mesmo com o Marcos Camacho, por pelo menos dois motivos lógicos: 1) Apesar de mais uma vez ter provado não possuir qualquer competência ou controle sobre prisioneiros, o sistema penitenciário paulista não seria tão imbecil a ponto de permitir que, naquele momento, o Marcola pudesse usar o celular, tanto que ele encontrava-se na penitenciária de Presidente Bernardes, temida pela bandidagem pelo sistema duríssimo, chamado regime diferenciado; 2) Marcola, definido como um criminoso de elevada capacidade intelectual, que teria lido mais de três mil livros na cadeia, não quedaria à idiotice de dar uma entrevista a um telejornal, entregando assim que, mesmo no interior do presídio linha dura, estaria tendo acesso ao celular. Aliás, nessa nem Caga-Sangue, um ladrão de galinha e roupa em varal que conheci na minha infância, cairia!
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Se não é mesmo possível crer nem um poucochinho no Estado, anulando assim a minha primeira premissa, que é bem coerente, convenhamos, ninguém poderá negar a segunda. Ou seja, a entrevista era uma farsa. Então, cabe uma pergunta: Quem montou a farsa? Roberto Cabrini, imitando Gugu Liberato, ou algum malandro, fazendo o experiente jornalista de besta? Esse é um problema enorme, afinal, no primeiro caso, Cabrini seria um crápula, jogaria no lixo toda a sua história, toda a sua credibilidade; No segundo, querendo usar um eufemismo, seria inocente, um ingênuo, e não querendo usar, um babaca, um burro de pai e mãe, o que também afetaria tudo o que construiu. (Não parece a história de um certo presidente de um certo país?)
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Bem, por ora deixo a vós o julgamento, até porque já falei – ou escrevi – demais. Pronuncio-me posteriormente. Adianto apenas que estaremos desenvolvendo, com esse tema todo, um novo verbo.
NILDO FERREIRA

3 Comentários

Léo Alves disse…
De vez erm quando alguém tenta "inventar" algo desse tipo no jornalismo. Mas vale a aquela velha máxima "de que mentira tem pernas curtas". Pode até demorar a aparecer, mas aparece. A prova de que o jornalismo tem que ser pautado pela verdade dos fatos. Nunca devemos nos deixar influenciar por aquelas pessoas que dizem "inventa isso e coloca na notícia". O Cabrini deu uma de Gugu (eu acho). A diferença é que Gugu não é jornalista. E Cabrini tem toda uma história que pode ter sido manchada por conta da sede de furo. Tudo tem que haver limites. Abs
Givanildo Santos disse…
Se esse for um jeito diferente de fazer jornalismo, é melhor ficarmos com o engodo do tradicional.
Se bem que, com a capitalização da informação e com os meios dominados pelos detentores do poder, fica difícil termos um jornalismo de verdade.
No entanto não podemos perder nossa missão de vista.
Ainda acredito.
Anônimo disse…
nau sabe de nada seu porra