O BANHEIRO DA FACULDADE E A SITUAÇÃO DO BRASIL


UMA ANÁLISE FISIOLÓGICA DE NOSSA PROBLEMÁTICA

Um dia destes, enquanto aguardava o começo da aula, estava eu distraidamente refletindo sobre a problemática política, social e econômica do País, quando me senti pressionado pelas irresistíveis forças uretéricas a dirigir-me, com toda a urgência, ao banheiro. Lá, enquanto aliviava a alma - pois aliviar a bexiga alivia a alma - os sentidos do olfato e da visão, automaticamente, dispuseram-se a uma avaliação do ambiente: paredes caindo aos pedaços, cheias de inscrições indecorosas - à moda da gurizada de quinta série - descarga quebrada, vaso sem tampa, imundo, chão igualmente podre, um aroma insuportável, porta sem ferrolho... Enfim, o caos!
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Ao recompor as vestes, em um relance, lembrei-me de que, até pouco, estava ponderando sobre a crise nacional. Sorri. Puxei a porta, abri a torneira e, então, compreendi: Não estive refletindo sobre aspectos tão distintos assim. Muito pelo contrário, podemos até fazer com o tema uma bela alegoria.
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O banheiro, em si, pode significar a Nação: maltratada, com uma estrutura física e tecnológica obsoleta e sucateada, desesperadamente carecendo de solução para a falta de eficientes atendimentos em setores fundamentais, como saúde (quem se atreve a sentar no vaso?), segurança (e se alguém abre a porta naquela hora?) e educação (riscar parede de banheiro é uma prova indiscutível de má educação). Essas necessidades fundamentais podem ser também representadas em nossa parábola pela falta de papel higiênico. Assim como esses serviços funcionam de forma precária no Brasil, nossos universitários têm que improvisar na hora da limpeza das "partes". Muito se vê folha de caderno, apostila, papel de março de cigarro e até, na época junina, sabugo de milho (???).
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O vaso sanitário faz as vezes do Estado: deveria ser limpo, bem cuidado, de boa aparência, para uso (não abuso!) de todos. Mas, ao invés disso, tem algo de podre em seu interior. E a descarga, que simboliza a Justiça, está lá, mas não funciona: está quebrada, por um sistema legal unilateral, de forma que não tem como limpar toda a sujeirada.
Bem, poderíamos seguir nesse processo comparatório, a partir de outros componentes do mictório, mas, convenhamos, já basta. Seria prolixo e nojento demais.
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Lembremos apenas que, assim como o Brasil, quando alguém (quem?) finalmente aparece para consertar alguma coisa no nosso banheiro, logo surge uma cambada de trogloditas-debilóides-acadêmicos com titica na cabeça para destruir. Continuem as coisas como vão e, assim como figurava à porta de um de nossos banheiros outro dia uma placa, ainda veremos sobre o Brasil o aviso: INTERDITADO. E quem não puder conter-se que vá procurar uma moita.
NILDO FERREIRA

3 Comentários

Interessante como ao entrar naquele banheiro da universidade as reflexões sobre o país se materializam de forma tão viva... Só tenho medo é de a coisa piorar -- não em relação ao banheiro, porque não há mais como, mas -- em relação ao país, e daqui há um tempo aquele banheiro servir como modelo de higiene se comparado ao Brasil.
Paula Theotonio disse…
Tem uma foto sua no album do meu orkut... Discutindo com Custodio!

Um abracinho e até breve =)
Anônimo disse…
Olha, achei muito interessante sua colocação entre o banheiro e o Brasil.

Estou trabalhando em um projeto sobre a utilização por universitários na Faculdade.
Sua exposição me ajudará bastante.

Obrigado.

Andrea